Dias 14 e 15: Brasília sem «Avenida Brasil»
Ando pouco de táxi em Brasília. Melhor dizendo, não ando nada. O hotel onde fico instalado só não tem vista para o Estádio Mané Garrincha porque na frente há outros hotéis. É a zona deles, lembram-se? Aqui é assim.
Andar menos de táxi é mais saudável do ponto de vista financeiro e, também, físico, já que me permite algumas caminhadas pela capital brasileira, onde tudo parece que fica logo ali mas afinal não. É um pouco como os ciclistas numa longa reta da meta. Está já ali. Está já ali. Está já ali. Mas o já é mais um jáaaaaaaaaa.
Mas evitar os táxis tem, também, o seu lado negativo. O meu curso de novelas brasileiras ficou a meio, por exemplo.
Sempre que debatia com taxistas as diferenças do português do Brasil para o português de Portugal usava o mesmo argumento: nós percebemos melhor os brasileiros por causa das novelas.
Eu dizia isto porque achava que fazia sentido. E ao mesmo tempo porque acho que é verdade. Mas nunca, garanto, por ser um especialista em novelas. O problema é que, quase sempre, os taxistas pensavam que eu dominava mesmo o assunto.
E perguntam-me que novela está a passar em Portugal, neste momento, algo que eu, com algum embaraço, admiti não saber. Lembrava-me de um nome: «Avenida Brasil». E então, a dada altura, passei sempre a dizer que era esta. Já me disseram que enganei metade dos taxistas de Salvador e Belo Horizonte. Vá lá, disso os de Brasília estão a salvo.
Quando podia puxava o tema para terrenos mais confortáveis. Falava de outras personagens que eu conhecia. Escrava Isaura, Jorge Tadeu, Gabriela, Sassá Mutema, o Jamanta, o Cadeirudo. Lembrava «O Rei do Gado» e «A Próxima Vítima». Não esquecia a «Malhação».
Mas eles queriam era falar das novelas de agora que, lamento, não domino. E lá fui levando com deixas como «não acha que a Lucilene deveria ficar com o Washington?» ou «aquele Lúcio é mesmo cara de pau». Inventei os nomes, confesso. Falta de atenção nas aulas.
Uma vez, com «seu Wando», um dos taxistas, tentei fazer o mesmo que Bruno Cortez durante meia época no Benfica: passar a ideia que percebia alguma coisa daquilo, mesmo sem saber nada.
«É um cafajeste? Pois é, o que ele fez não se faz a ninguém». «Ela traía o marido? É uma sem-vergonha sim, espero que seja apanhada» [reparem como arrisquei: poderia até já ter sido apanhada!]
Estava a correr bem, até que «seu Wando» me entalou: «Diz que não vê, mas sabe tudo!»
Está visto: se acabasse o curso teria boa nota de certeza. Que pena.
Ando pouco de táxi em Brasília. Melhor dizendo, não ando nada. O hotel onde fico instalado só não tem vista para o Estádio Mané Garrincha porque na frente há outros hotéis. É a zona deles, lembram-se? Aqui é assim.
Andar menos de táxi é mais saudável do ponto de vista financeiro e, também, físico, já que me permite algumas caminhadas pela capital brasileira, onde tudo parece que fica logo ali mas afinal não. É um pouco como os ciclistas numa longa reta da meta. Está já ali. Está já ali. Está já ali. Mas o já é mais um jáaaaaaaaaa.
Mas evitar os táxis tem, também, o seu lado negativo. O meu curso de novelas brasileiras ficou a meio, por exemplo.
Sempre que debatia com taxistas as diferenças do português do Brasil para o português de Portugal usava o mesmo argumento: nós percebemos melhor os brasileiros por causa das novelas.
Eu dizia isto porque achava que fazia sentido. E ao mesmo tempo porque acho que é verdade. Mas nunca, garanto, por ser um especialista em novelas. O problema é que, quase sempre, os taxistas pensavam que eu dominava mesmo o assunto.
E perguntam-me que novela está a passar em Portugal, neste momento, algo que eu, com algum embaraço, admiti não saber. Lembrava-me de um nome: «Avenida Brasil». E então, a dada altura, passei sempre a dizer que era esta. Já me disseram que enganei metade dos taxistas de Salvador e Belo Horizonte. Vá lá, disso os de Brasília estão a salvo.
Quando podia puxava o tema para terrenos mais confortáveis. Falava de outras personagens que eu conhecia. Escrava Isaura, Jorge Tadeu, Gabriela, Sassá Mutema, o Jamanta, o Cadeirudo. Lembrava «O Rei do Gado» e «A Próxima Vítima». Não esquecia a «Malhação».
Mas eles queriam era falar das novelas de agora que, lamento, não domino. E lá fui levando com deixas como «não acha que a Lucilene deveria ficar com o Washington?» ou «aquele Lúcio é mesmo cara de pau». Inventei os nomes, confesso. Falta de atenção nas aulas.
Uma vez, com «seu Wando», um dos taxistas, tentei fazer o mesmo que Bruno Cortez durante meia época no Benfica: passar a ideia que percebia alguma coisa daquilo, mesmo sem saber nada.
«É um cafajeste? Pois é, o que ele fez não se faz a ninguém». «Ela traía o marido? É uma sem-vergonha sim, espero que seja apanhada» [reparem como arrisquei: poderia até já ter sido apanhada!]
Estava a correr bem, até que «seu Wando» me entalou: «Diz que não vê, mas sabe tudo!»
Está visto: se acabasse o curso teria boa nota de certeza. Que pena.