O realizador António Pedro Vasconcelos apelou esta sexta-feira ao Presidente da República para que «trave este atentado contra o serviço público de televisão», na sequência do anúncio da concessão da RTP1 a privados, e o eventual fim da RTP2, noticia a Lusa.

O cineasta, que já foi membro do Conselho de Opinião da RTP, lançou em julho um manifesto contra a privatização da televisão pública, para o qual já recolheu 300 assinaturas «de pessoas de todos os quadrantes ideológicos, da esquerda à direita, e de várias áreas profissionais».

O economista e consultor do Governo António Borges admitiu na quinta-feira, em entrevista à TVI, o encerramento da RTP2 e a concessão a privados da RTP1, mas assegurou que nada está ainda decidido sobre o futuro da empresa.

A RTP2 irá «muito provavelmente» fechar, independentemente do cenário a adotar para o futuro da empresa, em razão do seu avultado custo, para reduzidas audiências, disse ainda o consultor do executivo na entrevista.

Em julho, o realizador António Pedro Vasconcelos, que publicou o manifesto no semanário «Express», tinha afirmado à Lusa que o processo de privatização da RTP «tinha contornos obscuros», e hoje considera que o plano anunciado pelo Governo «é uma ameaça muito maior».

No manifesto é defendida a manutenção da empresa, mas «desgovernamentalizada, deixando de ser o Governo a nomear a administração, para garantir a sua independência».

«Este pretexto de que Portugal tem de pagar as suas dívidas é uma estratégia para uma ofensiva sem precedentes, que é obrigar os Estados a privatizar tudo: a TAP, as Águas de Portugal, transportes, e de futuro também prisões e cemitérios...», sustentou o realizador.

Relativamente à RTP, Vasconcelos argumenta que a privatização «não está na agenda da troika, nem da União Europeia», e considera «absurda» a privatização numa altura em que «as televisões estão a fazer preços muito baixos para a publicidade, enquanto os jornais e as rádios vivem uma profunda crise».

A medida «revela uma ignorância e desprezo total pelo serviço público e pelas empresas estratégicas para o país. É um atentado à democracia», avalia.

No quadro do movimento que tem vindo a criar contra a privatização da RTP, o realizador avançou que a prioridade vai ser apelar a três entidades: o Presidente da República, Cavaco Silva, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e o povo português.

«Espero que Cavaco Silva trave, de uma maneira clara, este atentado ao serviço público de televisão, e o ministro Paulo Portas também o deve fazer, porque a medida não está prevista no programa de Governo do CDS, e os cidadãos portugueses devem abrir os olhos», apelou.

Vasconcelos indicou que nunca foi funcionário da RTP, mas tem uma ligação de décadas à empresa, tendo colaborado em vários projetos de filmes, em programas, e também como membro do Conselho de Opinião.

Explicou que há muitos anos se interessou pelo impacto das televisões na sociedade, sobretudo quando se apercebeu que «os portugueses vão, em média, duas ou três vezes por ano ao cinema, mas passam duas a três horas por dia a ver televisão».

«Obviamente que isto tem um impacto na formação das pessoas, e é aí que o serviço público é fundamental», defendeu.

Na próxima semana, o movimento vai criar um site na Internet com o título «Em Defesa do Serviço Público», de forma a recolher assinaturas para entregar uma petição na Assembleia da República, pedir uma audiência a Cavaco Silva e aos grupos parlamentares.