*Enviado-especial ao Euro 2016

Nada melhor do que um restaurante português nos arredores de Paris para sentir o pulso aos emigrantes, a verdadeira e numerosa base de apoio à Seleção durante o Euro 2016.

O MAISFUTEBOL esteve em Sainte-Geneviéve-des-Bois, na segunda casa do Max, a assistir ao Portugal-Estónia desta quarta-feira junto de portugueses radicados na cidade-luz.

Com as mesas postas para jantar com ocupação relativa, explicado por se tratar de um embate ainda a feijões, como chegou a avisar o simpático dono, mas com o bar cheio porque o futebol se discute entre uma cerveja fresquinha e pires de tremoços, assistimos a bocas abertas de espanto pelo golo de letra falhado por Quaresma e as muitas manifestações de contentamento por uma noite em cheio de remates certeiros.

Quaresma foi dos que mais encantou.

Claro que a festa começou tímida. O primeiro golo, nascido da trivela de Ricardo Quaresma, e com cabeceamento do capitão Ronaldo, soltou a primeira manifestação de alegria, acabando com alguma timidez que nem o álcool

- Quantas bebeste?
- Acho que foram duas ou três…
- Então, paga essas!

parecia conseguir afastar.

Depois, Quaresma inventou um chapéu assim que pôs o corpo a jeito para pintar a obra de arte, e Ronaldo assinou aquele golo estranhíssimo, defeituoso, com o pé que nunca esteve previsto, mas que valeu o mesmo que os outros seis. Ao início, parecia apenas menos convicto do que o costume, mas a primeira repetição trouxe a confirmação de que correra tão mal que saíra bem.

Uma camisola do Benfica, vestida por um madeirense fã de Aimar e de Ricardo Quaresma – o seu «maior ídolo» – estava feliz da vida, com a noite de gala do Harry Potter (ou Mustang, se preferirem). 

De facto, era o constante sublinhar do estado de loucura latente do extremo do Besiktas que temperava as suas cada vez mais saborosas jogadas. Ao ponto de, ao fim de uma assistência e um golo

- E agora, será que sai do 11?

A dúvida persistirá até ao dia 14, ou até ao momento que Fernando Santos a quiser dissipar. Não começou nesse restaurante de Paris, ali perto de Marcoussis, onde a seleção vai permanecer durante o Campeonato da Europa, mas foi e será ainda ponto de passagem da mesma, prolongando-se muito provavelmente até à estreia frente à Islândia.

Até ao fim dos 90, marcou mais um e provocou um autogolo. E a dúvida não parou de aumentar.

O Portugal-Estónia visto em Paris.

Os aaaaaaaaahhhh! apareceram naturalmente com o tiro falhado de Vieirinha, ou a perda de bola de Nani em posição fantástica de contra-ataque depois de três ou quatro arranques que pareciam querer resgatar um lugar que ameaçava perder-se. Tal como antes já tinham surgido na bola de Cristiano à figura, no momento em que seguia isolado para a baliza.

Com o jogo completamente entregue aos portugueses, viu-se a multidão elogiar João Mário, Danilo, as entradas fulgurantes de Renato Sanches e William, e a torcer um pouco o nariz ao momento de Moutinho, que parece ainda longe do seu melhor nível.

Com o apito final, sem direito a descontos, brindou-se mais uma vez e, perto das 23 horas, com o apagar das luzes e o esmorecer das conversas sobre o voltar à terra-mãe, os portugueses foram para casa.

Quaresma merecia ter levado para consigo a bola do jogo, mesmo que não tenha marcado os três golos do tradição. Levou pelo menos os sonhos dos emigrantes. Que traga a magia para França e ajude a levantar o caneco. É isso que todos eles desejam quando vestem a camisola das quinas durante um simples jogo amigável.

Eles acreditam que é possível. Mais do que todos os outros. E vão estar onde a Seleção esteja. Prometem. Costumam ser dos que cumprem.