Em 2008 a redação do Maisfutebol, em parceria com o cartoonista Ricardo Galvão, publicou na Prime Books o livro «Doze Euros no Bolso», que passava em revista, de forma bem-humorada, os momentos mais marcantes da história dos Campeonatos da Europa. São alguns desses textos, adaptados e atualizados, que recuperamos agora, para intervalar a atualidade do Euro 2016 com as memórias que ajudam a fazer a lenda da segunda maior competição internacional de seleções.

[TEXTO ORIGINAL – NÃO INCLUÍDO NO LIVRO]

A 1 de julho de 2004 a Grécia passou às meias-finais do Europeu organizado por Portugal. A seleção helénica eliminou a República Checa. Os gregos venceram 1-0 no único prolongamento decidido por Golo de Prata na história dos Campeonatos da Europa. Faz hoje 12 anos.

O Golo de Prata foi introduzido pela UEFA em 2002 sucedendo ao Golo de Ouro nas formas de desempate. A designação de «Prata» determinava que o jogo não terminaria (logo) com a marcação de um golo que deixasse uma partida desempatada.

Estando uma eliminatória empatada no final dos 90 minutos regulamentares do jogo (ou da segunda mão quando houvesse jogos em casa e fora, como no caso das eliminatórias de clubes) jogar o prolongamento em regime de Golo de Prata significava que: acontecendo a marcação de um golo, o jogo continuava até ao intervalo – se se estivesse na primeira parte do prolongamento – ou até ao final do tempo extra – se o golo acontecesse na segunda parte da prorrogação.

O Golo de Prata veio tentar ser mais justo do que o seu antecessor. O Golo de Ouro foi também apelidado de «Morte Súbita», um termo desagradável, porque refletia o caráter imediato com que o desempate ficava feito. Ou seja, marcar um golo no prolongamento significava ganhar porque a partida terminava com a marcação desse Golo de Ouro.

A final do Euro 96, em Inglaterra, foi assim decidida: por Morte Súbita. Oliver Bierhoff decidiu a favor da Alemanha o título de campeão europeu de 1996 jogado em Wembley. As vítimas deste troféu decidido por Golo de Ouro também foram os checos – como em 2004 ante a Grécia.

Portugal foi outra vítima do Golo de Ouro no Euro 2000. Nas meias-finais do Europeu organizado por Bélgica e Holanda, a seleção nacional foi eliminada no prolongamento do jogo das meias-finais quando Zinedine Zidane converteu em golo um penálti que acabou por ser também de ouro.

O Golo de Prata tentou acrescentar às formas de desempate a possibilidade (em teoria) de que a equipa que sofria o golo tivesse a hipótese de recuperar a desvantagem nos minutos que ainda faltassem para terminar a parte do prolongamento que se jogava. No caso do Grécia-R. Checa do Euro 2004, o Golo de Prata de Traianos Dellas, no fundo, acabou por funcionar como um Golo de Ouro: porque foi já marcado no minuto de compensação da primeira parte do prolongamento.

Este foi o único golo de Dellas em 53 jogos que viria a fazer pela seleção da Grécia. Foi também o único Golo de Prata dos Campeonatos da Europa – no seu sentido literal de decisivo. Mas o que teve mesmo foi sabor a ouro, pois não só o jogo terminou de seguida, como o triunfo ditou a passagem da Grécia à final do Euro 2004 que os gregos viriam a ganhar vencendo Portugal na final.

Para Tomas Galasek, este foi também um caso em que se aplicou o provérbio português «Quem com ferro mata, com ferro morre». O checo – o nº4 na fotografia do golo da Grécia – foi derrotado no Euro 2004 por um Golo de Prata, assim como, quando representava o Ajax, já tinha estado na posição de vencedor após um desempate por esta forma.

Na 3ª pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões 2003/04, a equipa holandesa empatou 1-1 com o GAK na primeira mão repetindo o mesmo resultado em casa. Jogou-se o prolongamento e o Ajax venceu o jogo beneficiando de um penálti assinalado a três minutos do final da primeira parte do prolongamento.

Os jogadores da equipa austríaca protestaram pela polémica falta que motivou o penálti, pois viam-se também na posição de ficar com um minuto e meio para recuperar da desvantagem caso o castigo máximo fosse concretizado. E foi. Precisamente por Galasek.

O desempate por Golo de Prata, ou Ouro, foi abandonado a partir do Euro 2004. Nesse mesmo Campeonato da Europa, o prolongamento do Portugal-Inglaterra dos quartos de final foi jogado também com o Golo de Prata como forma de desempate do 1-1 após os 90 minutos. Portugal marcou aos 110 minutos, já na segunda parte do prolongamento, e como o jogo continuou até ao final do tempo extra, a Inglaterra ainda conseguiu empatar aos 115 minutos anulando a vantagem conseguida pelos portugueses.