Cinismo. O substantivo persegue a Itália ao longo de décadas e adquire uma fórmula reforçada neste Euro2016. A vítima, porque há sempre uma vítima, é a Bélgica, opositor na estreia Azurra no torneio.

Um golo de Emanuele Giaccherini - sucessor dos sagrados Del Piero e Totti na posição-10 - marcou o ritmo do duelo em Lyon e colocou os homens de Antonio Conte na posição que mais gostam. Recuados, em bloco baixo, expetantes. 

Aparente em sofrimento e sem alternativas à maior qualidade estética belga, a Itália trincou os lábios até se soltar num derradeiro contra ataque, já em período de descontos. Passe perfeito de Antonio Candreva e bomba de Graziano Pellè, de primeira.  

FICHA DE JOGO DO BÉLGICA-ITÁLIA

A Itália sabe como ganhar assim, talvez até tenha uma predileção por este... cinismo. Joga menos, remata menos, tem menos posse de bola e, pelo menos na versão atual, até menos qualidade do que os Diabos Vermelhos.

No plano de abertura, tudo perfeito para a Itália. Frente ao teoricamente mais forte adversário do Grupo E, os três defesas da Juventus e o eterno Gigi Buffon foram capazes de disfarçar - com concentração e solidez - o que falta à equipa no processo ofensivo.

Sem um regista capaz de dar qualidade à saída de bola (que saudades, Pirlo!) e sem um elo de magia na ligação meio-campo/ataque, a Itália abdicou da bola, perdeu o meio-campo para a Bélgica e... o resto foi futebol.

A «fúria» espanhola e a «bella Italia»

É verdade que Courtois fez duas defesas do outro mundo no segundo tempo (cabeceamento de Pellè e pontapé de Immobile), mas na outra baliza esteve um enorme Buffon e um ataque sem lucidez para completar os interessantes movimentos da seleção belga.

Uma equipa de atributos mais atraentes e com um banco de luxo (Mertens, Ferreira-Carrasco, Origi e tantos mais), outra claramente limitada em determinados itens do jogo e apoiada na solidez defensiva trasladada de Turim.

Explica, o tal cinismo, tudo isto? Ajuda, sim, mas de cinismo nada houve no falhanço de Romelu Lukaku, aos 54 minutos. Assistência de De Bruyne, ponta de lança isolado frente a Buffon, bola picada e a rasar a barra... foi ao lado, podia ter ido para dentro.

E lá vai a Itália, ainda menos bella, ainda mais esperta e matreira. Até onde é que isto vai dar?