De um lado a Espanha, campeã mundial em título, contra a França, bicampeã olímpica e maior potência do andebol nos último oito anos. Do outro, a Dinamarca, atual campeã da Europa - que, como organizadora, beneficia do apoio ruidoso de um público entusiasta - contra a Croácia, única seleção que esteve no pódio das últimas três grandes competições.

Uma coisa é certa: ninguém pode dizer que o Campeonato da Europa de andebol, que termina neste domingo, fintou os prognósticos. Com maior ou – quase sempre - menor dificuldade, as principais favoritas à partida foram confirmando esse estatuto ao longo de seis jogos e duas fases de grupos. Nesta sexta-feira, protagonizam meias-finais de alta voltagem, reservadas à elite das elites. Não há melhor do que isto no andebol mundial.

A afirmação é pacífica, mesmo tratando-se de um Europeu: em 23 edições de Campeonatos do Mundo, nunca uma seleção de outro continente conseguiu chegar ao pódio – ao contrário do que sucede na variante feminina onde a Coreia do Sul e, muito recentemente, o Brasil já conseguiram a coroa suprema. Por isso, o Campeonato da Europa, livre do cumprimento de quotas continentais, é aquele onde o equilíbrio competitivo é maior.

Para o treinador Mário Santos, professor universitário, com doutoramento feito na área de andebol, a fiabilidade dos grandes, tanto no plano individual como no coletivo, é um dos pontos em destaque nesta edição da prova: «As equipas mais credenciadas não têm falhado, as grandes estrelas também não», sublinha, apontando os nomes dos croatas Duvnjak e Vori, do francês Nikola Karabatic e também o do «pivot» espanhol Aguinagalde, que depois de falhar a primeira fase, por lesão, sublinhou a sua entrada em cena com 12 golos em apenas 45 minutos.

O outro ponto relevante destacado por Mário Santos passa pelo número de espectadores nas bancadas, com os jogos da seleção dinamarquesa a serem seguidos por 14 mil adeptos: «Nesse aspecto tem sido brilhante, todo o envolvimento que se faz em redor do andebol, que é o desporto nacional número um, na Dinamarca, especialmente em femininos. Mobiliza muita gente, é uma lição pedagógica, que talvez só tenha paralelo com o que sucede na Alemanha», diz.

E Portugal?

Como vem sendo hábito nos últimos anos, os adeptos portugueses da modalidade vão acompanhando à distância a eveolução das melhores seleções. Com o fim da geração dourada de Carlos Resende, Eduardo Filipe, Ricardo Costa e companhia, o ciclo de presenças da seleção nacional em fases finais interrompeu-se abruptamente no Europeu de 2006 e não voltou a ser reatado. Um fenómeno que Mário Santos atribui «à transição de gerações e ao abandono de grandes referências», mas só em parte. Se olharmos para o total de praticantes federados, o andebol já teve ligação mais direta aos jovens, tendo perdido o estatuto de segunda modalidade colectiva do país para o basquetebol, e também para o voleibol, por força da forte ligação desta última ao desporto escolar.

«Estas grandes competições não chegam para gerar grande entusiasmo. Os miúdos estão longe, a informação não chega e os jogos são pouco publicitados, apesar de nesta altura ser fácil aceder-lhes, através da internet», constata. «Há pouca promoção das modalidades amadoras em geral, e desta em particular. A situação já foi melhor, com parcerias eficazes entre estações de TV e a federação, mas nos últimos anos, deixou-se de ter a referência do andebol como desporto habitual nos écrans», sublinha.

Treinador com três décadas de experiência, Mário Santos separa, ainda assim, esta realidade do sucesso desportivo da seleção, acerca do qual se afirma moderadamente otimista: «Infelizmente não fomos apurados para o próximo Mundial do Qatar, o que não foi bom. Mas esta geração de jogadores, comandada pelo selecionador Rolando Freitas, cresceu com ele nas seleções jovens, com bons resultados. Acredito que o tempo vai dar-nos coisas boas, mas um salto qualitativo destes exige paciência», sublinha. O interregno nas grandes fases finais vai estender-se por uma década, mas, acredita Mário Santos, pode não ir mais longe: «É possível apontar ao Euro-2016 como meta, ainda por cima com sinais recentes, como a presença do FC Porto na Liga dos Campeões. Com mais um ano a este nível, o crescimento competitivo desses jogadores vai notar-se rapidamente», reforça.

Destaques individuais

Difícil apontar favoritos em meias-finais tão equilibradas, mas Dinamarca (joga em casa e é a única seleção só com vitórias) e França (que venceu a Croácia na decisão do grupo B) talvez partam com ligeira vantagem, em teoria. Seja como for, eis um guia rápido de nomes que não deve perder de vista nas meias-finais desta sexta-feira e nas finais de domingo.

Na Dinamarca, seleção organizadora, o primeiro destaque vai para o guarda-redes Niklas Landin que, com apenas 24 anos é já um dos melhores do mundo no seu posto. Neste Europeu tem uma eficácia de quase 40 por cento, um número que o deixa acima dos concorrentes diretos, como o histórico guardião francês Thierry Omeyer, que aos 37 anos pode rechear ainda mais um dos currículos mais brilhantes na história da modalidade: dois títulos olímpicos, três mundiais, dois europeus, e três Ligas dos Campeões, de 2001 para cá.

Além de Landin, os dinamarqueses confiam cegamente no lateral esquerdo Mikkel Hansen, eleito melhor jogador do mundo em 2011, e já recuperado das lesões que o limitaram na época passada. Com impressionantes 36 assistências e 28 golos, é o melhor passador da prova e o melhor marcador da equipa, à frente do ponta-direita Hans Lindberg, melhor marcador da Bundesliga, o campeonato mais exigente do mundo, e também da Liga dos Campeões.

Do outro lado, a Croácia, que joga a sexta meia-final consecutiva de um campeonato da Europa, aposta as fichas todas no central Domagoj Duvnjak, de 25 anos - para muitos, o melhor jogador mundial da atualidade -e no experiente pivot Igor Vori, de 33, que é o habitual comandante da manobra defensiva.

Na primeira meia-final, a França tem como grande referência Nikola Karabatic, que aos 29 anos está no ponto ideal de maturação numa carreira que já o fixou como um dos melhores jogadores de todos os tempos. A central ou a lateral esquerdo, Karabatic conta neste Europeu com o reforço do irmão mais novo, Luka, especializado em tarefas defensivas. A equipa de Claude Onesta – que pode neste Europeu reforçar o estatuto de um dos treinadores com mais títulos de sempre – terá pela frente uma campeã Mundial, Espanha, um pouco mais irregular do que é hábito, mas que tem como pontos moralizadores o regresso de Aguinagalde, - com 1,95 e 110 kgs talvez o «pivot» mais difícil de parar da atualidade - e a boa forma do rápido ponta direita Victor Tomas, melhor marcador da equipa com 29 tentos.

Programa de jogos:

Sexta-feira:
França-Espanha, 17.30
Dinamarca-Croácia, 20 h

Domingo:
Atribuição dos 3/4º lugares, 14 h
Final, 16.30