A figura: Licá

Batismo dourado no Dragão, depois do primeiro também de sonho, na Supertaça. Em Setúbal, Licá andou longe do diabo à solta que se viu em Aveiro, mas os adeptos portistas não precisaram esperar muito para o ver de novo inspirado. Inventou o golo que desbloqueou o jogo, aproveitando a passividade de Briguel e fez ele mesmo o segundo no mesmo estilo do que tinha feito frente ao V. Guimarães. Parece, por isso, um lance trabalhado: Licá vai fazer mais assim este ano.

A desilusão: Marítimo

Sem chama, sem rasgo, muito permissivo na defesa, tenro no miolo e inoperante na frente. O Marítimo que veio ao Dragão foi uma sombra que passeou sobre o relvado. Mérito do F.C. Porto, também, que engoliu facilmente um onze que sentiu nas costas o peso de cada espinho cravado em forma de golo.

O momento: Licá descobre o caminho

Minuto 27. Licá ainda não tinha aparecido no jogo, mas foi quando tirou o primeiro coelho da cartola que o ferrolho abriu. Antes já era F.C. Porto e depois continuou a ser. Mas foi naquele instante em que o extremo português deixou Briguel para trás e assistiu na perfeição Jackson que o Dragão respirou. O caminho estava encontrado. O resto era com os artistas.

Outros destaques

Josué

Há momentos que definem um jogador. O lance do segundo golo do F.C. Porto, iniciado por Josué, mostra na perfeição o que é este médio «repescado» em Paços de Ferreira. Josué recebeu no centro e o movimento natural seria entregar a Danilo lá na linha. Ainda por cima com pressão insistente de um adversário. Mas Josué viu mais à frente: aguentou a carga, conduziu a bola mais uns instantes, leu a entrada do lateral brasileiro e meteu a bola no espaço. O resto foi com os companheiros. Um pormenor apenas num jogo de muitos e com qualidade. Está a criar raízes no F.C. Porto. E estatudo, como atesta o segundo penalty convertido em dois jogos. Difícil vai ser tirá-lo do onze...

Jackson Martínez

Se a cabeça está fora do Dragão...não parece. Disputa cada bola como se fosse a última, luta como sempre o fez e continua com a classe do costume. Como naquele lance em que recebeu de costas para a baliza e, com o Estádio em suspenso, levantou a bola para tentar o golo de cabeça. Não deu. Mas também não tardou. No minuto seguinte aproveitou a arrancada de Licá para fazer o segundo na Liga e manter a média. Não conseguiu mais porque a segunda parte foi bem menos inspirada.

Danilo

Mais atrevido do que Alex Sandro esta noite. Antes de assistiu Licá para o segundo, num lance inteligente em que esperou o momento certo para soltar a bola, o brasileiro já tinha revelado apetência ofensiva. Como é habitual, de resto. Passada larga, poder físico e entrega total. Falta-lhe afinar apenas o cruzamento para ser, verdadeiramente, um lateral de topo na Europa.

Fernando

O Fernando que começou a jogar no F.C. Porto não tinha lugar nesta equipa. Este, longe de ser a classe em pessoa, continua exímio a defender e já mostra muito mais quando é preciso atacar, um papel que Paulo Fonseca quer que o brasileiro desempenhe mais vezes este ano. Dois passes que deixaram Jackson na cara de José Sá mostram um Fernando diferente, para melhor. Se a concentração continuar no Dragão, pode crescer ainda mais.