Os últimos minutos, carregados de emoção, não mereciam que este Farense-Famalicão tivesse ficado marcado por uma situação que nem dentro do relvado aconteceu.

As duas equipas mostraram-se em bom plano (melhor o Famalicão na primeira parte, melhor o Farense na segunda) e o empate a um golo acaba por ser justo.

Mas, para falar desta partida, que teve uma boa moldura humana no São Luís, somos obrigados a recuar àquele minuto 79.

Chiquinho preparava-se para bater um pontapé de canto, mas não o chegou a fazer. O extremo do Famalicão queixou-se de ouvir insultos racistas, apontando inclusive para o adepto.

Quanto à história da partida, começou à semelhança do que tem acontecido nas últimas partidas no São Luís: com o Farense a entrar mal no jogo.

Basta pensar nas exibições fracas frente a Estrela da Amadora, Vitória ou Gil Vicente (apesar da vitória alcançada nos últimos minutos), em que os algarvios também ficaram aquém.

A fortaleza que costuma ser o São Luís foi facilmente arrombada por um Famalicão que, durante a primeira parte, mostrou muito mais.

A estatística comprova-o: a equipa de João Sousa teve mais posse de bola (uns esmagadores 64%) e o dobro dos remates (8 contra 4).

Balanceado por nomes como Sorriso – a estrear-se após a contratação no mercado de Inverno -, Cadiz e Francisco Moura, o Famalicão jogou à vontade.

O golo, alcançado ao minuto 19, foi apenas o corolário dessa superioridade. Tudo começou num canto, aliviado pela defesa do Farense.

A bola acabou por sobrar para Sorriso que não esteve com meias medidas: disparou de pé esquerdo, num grande remate que só parou nas redes de Ricardo Velho.

O guarda-redes do Farense nada pôde fazer para evitar a estreia a marcar do médio brasileiro, contratado ao Red Bull Bragantino.

Os algarvios ainda esboçaram uma leve reação, com duas chances para Mattheus Oliveira, mas mesmo ele – um dos melhores do Farense – não estava nos seus dias.

José Mota percebeu que tinha de mudar e, após o intervalo, fez entrar Belloumi para o lugar de Marco Matias.

Rafael Barbosa e Fabrício também entraram logo nos minutos iniciais do segundo tempo e a verdade é que o Farense melhorou.

Os algarvios apareceram de cara lavada, a querer mandar no jogo e tiveram chances suficientes para o empate.

Mattheus, ao minuto 55, ainda meteu a bola no fundo da baliza, num bom cabeceamento, após canto batido por Elves, mas o árbitro assinalou uma falta de Zach Muscat para muitos protestos dos jogadores do Farense.

Os algarvios iam justificando a igualdade: aos 67m, por duas vezes o Farense esteve perto do golo.

Primeiro foi Gonçalo Silva a obrigar Luíz Júnior a defesa apertada. Depois, na recarga, Mattheus quase marcou, mas um defesa do Famalicão cortou em cima da linha de golo.

Quanto ao Famalicão, em abono da verdade, também ia espreitando o golo da tranquilidade: Chiquinho podia tê-lo feito, aos 57m, mas o remate saiu a rasar o poste.

Cadiz, aos 61m, também teve a sua chance, só que o cabeceamento foi um pouco por cima da barra.

A partida estava emocionante, com incerteza no resultado, mas ao minuto 79, como já lhe contei, ficou manchada.

Chiquinho preparava-se para bater um canto quando se queixou de insultos racistas vindo de um adepto nas bancadas. De pronto, o jogador abandonou o local e dirigiu-se ao árbitro.

O jogo esteve interrompido, Chiquinho foi saudado pelos companheiros de equipa e também por jogadores do Farense.

A interrupção durou cinco minutos, o extremo do Famalicão ainda continuou em campo, mas por pouco tempo; acabaria por ser substituído minutos depois e foi do banco que viu o Farense chegar à igualdade.

Aos 90+2m, Talocha fez um cruzamento longo, Belloumi desviou de cabeça e Ponde tocou de cabeça para a finalização certeira de Bruno Duarte.

Os últimos minutos foram frenéticos: o Farense podia ter chegado à reviravolta, mas o Famalicão também podia ter voltado a marcar.

No final, ninguém sorriu. Nem Farense. Nem Famalicão. Nem o futebol, Chiquinho.