O Galatasaray recuperou o trono do futebol turco e, consequentemente, voltou à Liga dos Campeões, após três épocas de ausência. O campeão otomano teve um regresso de sonho à mais prestigiante prova da UEFA: bateu o Lokomotiv por 3-0.
O Gala é um conjunto de qualidade, sobretudo no processo ofensivo. Jogadores com Belhanda, Garry Rodrigues, Derdiyok, Nagatomo e Mariano disfarçam algumas lacunas que a formação orientada por Fatith Terim tem sem bola. Coletivamente o FC Porto mostra mais capacidade e poderá, em caso de triunfo, isolar-se no topo do grupo D.
O Galatasaray joga habitualmente em 4x2x3x1, um sistema montado para jogar constantemente em ataque organizado. Como acontece quase por tradição com as equipas turcas, o Gala tem tendência em colocar muitos homens no momento ofensivo, sendo algumas vezes apanhado desequilibrado.
Este é o cenário habitual no campeonato. No primeiro jogo já disputado na Liga dos Campeões, o campeão turco apresentou-se mais racional - Terim introduziu Akbaba na direita o que deu mais consistência e equilíbrio -, embora o campeão turco não tenha passado por alguns sobressaltos.
No fundo, o Galatarasay é uma equipa que se sente desconfortável em jogar sem bola durante a maior parte dos encontros, fruto dos hábitos internos. Contudo, tem uma impressionante capacidade para sair em contra-ataque um pouco por culpa das características de jogadores como Féghouli, Garry Rodrigues, Gumus ou até mesmo de Nagatomo e Mariano (pela facilidade com que se incorporam no processo ofensivo).
Organização e transição defensiva
O Galatasaray é uma equipa que gosta de pressionar a saída de bola contrária, embora nem sempre o faça da forma mais organizada. Habitualmente, os turcos juntam um dos médios a Derdiyok (o segundo jogador mais utilizado atrás de Muslera) na pressão aos dois centrais. O problema é que o resto da equipa não condiciona de igual forma: os outros dois médios raramente ajustam e sobem, e os extremos têm poucas preocupações em fechar por dentro. Não raras vezes, a pressão parece ser feito de um modo algo anárquico.
Outra das lacunas do Galatasaray está relacionada como os movimentos de arrasto. Imensas vezes os defesas e médios preocupam-se em seguir o adversário que está no raio de ação e acabam por perder noção do espaço a ocupar.
O futebol é um jogo de enganos. Se o FC Porto for capaz de arrastar os jogadores do Galatasaray pode ter espaço para definir com tempo. Enganando o adversário, surgem brechas.
A reação à perda do emblema turco não é propriamente eficaz, como Hélder Barbosa frisou em conversa com o nosso jornal.
Organização ofensiva
Se sem bola o Galatasaray comete alguns erros primários, com bola é uma equipa de muita qualidade. Nota-se que há trabalho. Belhanda, Akbaba, Garry Rodrigues, Fernando ou Derdiyok são jogadores que, por norma, entendem bem o que o jogo implora. Porém, em determinados momentos, o Gala perde-se em ataques vertiginosos.
Terim pede aos seus jogadores para atraírem o adversário ao corredor central e só depois fazer a bola chegar aos corredores através dos laterais. De quando em vez, os médios abrem espaço para Derdiyok fazer «parede», ou seja, recuar e tocar para o médio solto, enquanto os dois extremos fazem diagonais de fora para dentro.
Como referido anteriormente, outra das soluções do Galatasaray é utilizar Derdiyok como referência ofensiva. O suíço tanto domina como toca de frente, como desvia de cabeça para as diagonais dos extremos.
Bolas paradas
Ofensivamente o Galatasaray tem jogadores poderosos no jogo aéreo, com Maicon e Derdiyok à cabeça e aproveita todas as faltas para lançar bolas para a área. Todavia, não é através de bolas paradas que o conjunto de Terim marca a maioria dos seus golos. Os lances são cobrados ora por Belhanda, ora por Akbaba, embora sem grande critério.
Defensivamente, as segundas bolas são o maior problema do clube de Istambul. Em sucessivos jogos, a zona frontal da área estava completamente desprotegida, permitindo ao oponente pontapés de fora da área.
O FC Porto tem capacidade para bater o Galatasaray. Os turcos apresentam uma maior variabilidade de jogo em termos ofensivos do que o Schalke 04 por exemplo, ainda que não sejam tão consistentes defensivamente. Os dragões devem usar e abusar dos movimentos de arrasto tamanha a facilidade com que os jogadores do Gala perdem a noção do espaço. Em atenção devem ter as combinações com Derdiyok e terão obrigatoriamente de controlar muito bem a profundidade, de forma a evitar as diagonais dos extremos.
Figura: Garry Rodrigues
O cabo-verdiano é, a par de Derdiyok, o jogador mais influente do processo ofensivo dos turcos. Joga a partir do corredor esquerdo, mas pisa constantemente terrenos interiores, não só para abrir espaço à subida do lateral como para rematar com o pé mais forte (direito). É extremamente rápido e procura sucessivamente fazer diagonais nas costas dos defesas contrários, aproveitando desvios do avançado suíço.