Foi a 6 de maio de 2014 que Pinto da Costa apresentou Julen Lopetegui como treinador do FC Porto para as próximas três temporadas. A resposta encontrada a um ano marcado pela perda do título para o Benfica de Jorge Jesus veio do outro lado da fronteira. Um técnico semidesconhecido do público português, com tradição em clubes como o Barcelona ou o Real Madrid, enquanto guarda-redes, e nas camadas jovens de Espanha, já como técnico.

O FC Porto foi o primeiro grande clube que treinou e, feitas as contas, não se pode dizer, de todo, que tenha sido uma experiência positiva. Agora que a ligação entre as duas partes caminha para o final (a oficialização deve chegar já esta sexta-feira), o retrato final não é bonito.

A passagem de Lopetegui pelo FC Porto fica marcada, sobretudo, pela ausência de títulos. Desde José Couceiro que um treinador dos dragões não entrava e saía sem conquistar qualquer título, exceção feita ao interino Luís Castro, que pegou na equipa, em regime de transição, após a saída de Paulo Fonseca.

As contratações sonantes, principalmente as que vieram de Espanha, com Iker Casillas à cabeça, foram também uma das notas dominantes de um reinado de altos e baixos que nunca foi unânime e que só entusiasmou, verdadeiramente, nas pré-temporadas, alturas em que, apoiada em reforços que, muitas vezes, fugiam à matriz tradicional do FC Porto, a equipa fazia os adeptos sonhar.

Em campo, contudo, foram mais os pontos negativos do que positivos. Ainda assim, Lopetegui deixa o Dragão com uma caminhada muito boa na Liga dos Campeões, na primeira época, com a goleada ao Basileia (4-0) e a vitória caseira sobre o Bayern Munique (3-1) como pontos altos, mas que acabou ofuscada pela goleada de Munique. Na Liga, foi invariavelmente batido por Jorge Jesus, primeiro no Benfica e , agora, no Sporting. As Taças foram uma miragem, exceção feita à Taça de Portugal deste ano onde ainda se encontra com francas possibilidades de discutir o troféu.

Lopetegui foi, ainda, criticado pela forma como (não) comunicava. Dos parcos esclarecimentos em torno da forma de jogar da equipa, aos ataques à arbitragem e àquilo que ficou conhecido como o «manto protetor» do rival da Luz.

A juntar a isto tudo, o Maisfutebol reuniu seis pontos que foram determinantes no esgotar da paciência dos adeptos. Uns mais cedo, outros mais tarde, mas todos com o mesmo efeito: uma mossa que começou ao de leve e se tornou insustentável. Os assobios e lenços brancos recentes foram o último sinal.

-Eliminação da Taça em casa frente ao Sporting



O primeiro murro metafórico em Julen Lopetegui foi dado pelo Sporting de Marco Silva. Numa altura em que a estratégia de rodar jogadores praticamente em todos os jogos começava a levantar as primeiras críticas, o técnico abordou a eliminatória de estreia na Taça de Portugal de forma pouco cautelosa. Apresentou um onze com alguns jogadores menos rodados, casos de Jose Angel, Marcano ou Adrián Lopez e também com um sistema diferente. Um alternativo 4-4-2, que tinha resultado na goleada ao BATE Borisov, mas se revelou um problema frente a uma equipa mais qualificada. O Sporting gelou o Dragão, ganhou 3-1 e seguiu em frente. O FC Porto dizia adeus ao primeiro título da época, mas poucos poderiam adivinhar o que aí vinha.

-A noite em que Lima afundou o Dragão



O jogo que marcou a época 2014/15 no FC Porto. Lopetegui igualava o Benfica na frente do campeonato em caso de vitória, mas acabou derrotado, em casa, pela segunda vez consecutiva perante os rivais. No final, o técnico queixou-se da falta de sorte, argumentou que a sua equipa fora melhor (enviou duas bolas ao travessão já depois de sofrer o segundo golo) e garantia acreditar que a equipa corria para o título. A verdade é que a liderança ficava a seis pontos e a eficácia do Benfica de Jesus, a juntar ao tremer do FC Porto em alturas chave, como após a derrota encarnada em Vila do Conde, tornou impossível o resgate do título.

-A goleada de Munique



Se houve algo que serviu de escudo perfeito ao insucesso interno de Lopetegui na primeira temporada no FC Porto foi a campanha na Liga dos Campeões. Brilhante até ao golpe final, que foi duríssimo. Depois de começar no playoff, de vencer o grupo e atropelar o Basileia, o FC Porto tinha pela frente o poderosíssimo Bayern Munique. Se a missão parecia delicada de início, a vitória no Dragão trouxe uma onda de euforia que extravasou, inclusive, as fronteiras de Portugal. A Europa viu o gigante Bayern cair no Dragão e ficou a olhar para o jogo da segunda mão com uma curiosidade evidente. Aí, sem laterais, e com a ideia de colocar Reyes na direita, corrigida à meia hora, o FC Porto acabou humilhado. 5-0 ao intervalo, 6-1 no final. Adeus à Champions. O ar começava a rarear.

-Na Luz sem ambição e sem título



Tal como na primeira volta, Lopetegui jogava com o Benfica com três pontos de atraso. O resultado do Dragão dava uma grande ajuda a Jorge Jesus que só cairia para o segundo lugar se perdesse por mais de dois golos de diferença. O FC Porto tinha de arriscar, mas entrou na Luz com meio campo reforçado (Ruben Neves, Casemiro, Evandro e Oliver) e Quaresma no banco. O jogo foi pastoso, o Benfica jogou com os dois resultados que lhe serviam e tudo terminou sem golos. Via aberta para o bicampeonato. Semanas depois, com outro comprometedor empate no Restelo, o FC Porto entregava o título uma bandeja.

-O falhanço na Champions em dois atos




Em 2015/16, mesmo que o início não tenha sido de sonho, o ponto de viragem terá mesmo sido a derrota em casa com o Dínamo Kiev. O FC Porto chegara à penúltima jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões com 10 pontos e a precisar de apenas um empate com os ucranianos, no Dragão, para garantir o acesso aos oitavos de final, objetivo considerado primordial, até pelo fator económico, pela SAD. Num jogo em que quase tudo correu mal, o Dínamo venceu 2-0 e deixou os dragões obrigados a vencer em Londres. Aí, em nova noite de inovação tática com meio campo recheado e sem ponta de lança, o FC Porto voltou a ser curto. Perdeu com um Chelsea em crise evidente (Mourinho sairia pouco depois) e disse adeus à Champions. À chegada, os adeptos mostraram o descontentamento. O adeus ficava mais perto.

-Numa semana líder, na outra a quatro pontos…




O golpe final foi esta última semana em que o FC Porto falhou a todos os níveis a defesa da liderança. A primeira e única liderança no reinado de Lopetegui no FC Porto. A derrota para a Taça da Liga, em casa, com o Marítimo, que praticamente afasta a possibilidade de seguir em frente numa prova que o FC Porto nunca venceu, foi o primeiro sinal. Mas a derrota em Alvalade, seguida de empate caseiro com um Rio Ave remendado, transformaram um ponto de avanço em quatro de atraso. Com os vila-condenses, o Dragão não teve, sequer, 20 mil espectadores. Sinais evidentes de divórcio entre a equipa e uma grande fatia dos adeptos. Foi a gota de água.

OS NÚMEROS DE LOPETEGUI NO DRAGÃO:


2014/15

Liga: 34 jogos / 25 vitórias / 7 empates /2 derrotas
Liga Campeões: 12 jogos / 8 vitórias / 3 empates / 1 derrota
Taça de Portugal: 1 jogo / 1 derrota
Taça da Liga: 5 jogos / 3 vitórias / 1 empate / 1 derrota

2015/16

Liga: 16 jogos / 11 vitórias / 4 empates / 1 derrota
Liga Campeões: 6 jogos / 3 vitórias / 1 empate / 2 derrotas
Taça de Portugal: 3 jogos / 3 vitórias
Taça da Liga: 1 jogo / 1 derrota

TOTAL:
78 jogos / 53 vitórias / 16 empates / 9 derrotas

Percentagem de vitórias: 67,9 por cento

Compatativo de percentagem de vitórias com os anteriores treinadores:


Julen Lopetegui: 67,9 por cento

Luís Castro: 56,2 por cento (16 jogos; 9 vitórias, 2 empates; 5 derrotas)

Paulo Fonseca: 56,7 por cento (37 jogos; 21 vitórias; 9 empates; 7 derrotas)

Vítor Pereira: 69,8 por cento (93 jogos; 65 vitórias, 16 empates; 12 derrotas)

André Villas-Boas: 84,4 por cento (58 jogos; 49 vitórias; 5 empates; 4 derrotas)

Jesualdo Ferreira: 67,0 por cento (188 jogos; 126 vitórias; 30 empates; 32 derrotas)

Co Adriaanse: 64,4 por cento (45 jogos; 29 vitórias; 10 empates; 6 derrotas)

José Couceiro: 47,0 por cento (17 jogos; 8 vitórias; 5 empates; 4 derrotas)

Victor Fernandez: 44,8 por cento (29 jogos; 13 vitórias; 9 empates; 7 derrotas)