Questionado sobre a candidatura do FC Porto ao título, Sérgio Conceição reconheceu que tem enfrentado novos desafios esta temporada, sobretudo pela saída de jogadores importantes.

«Dia após dia, há um recomeçar, em relação a lesões e uma saída ou outra. Não estou a lamentar perda de jogadores, mas é uma realidade. O Otávio era experiente, o Uribe também, o Pepe e o Marcano, que infelizmente está de fora. São jogadores que tinham um peso grande. Vamos ajustando, dando à equipa cosias diferentes, mas o problema é que se começa uma época e, no primeiro mês, nos amigáveis que fazemos, se não ganhamos há logo a exigência dos adeptos e da comunicação social. E não temos "superstars". Temos jogadores de trabalho, que se dedicam à causa, ambiciosos. Não temos varinha mágica, mas tentamos com muito trabalho e dedicação lutar pelos objetivos e acredito que este ano vai ser o mesmo», afirmou o técnico portista na antevisão ao jogo com o Desportivo de Chaves.

Conceição fez ainda uma reflexão sobre o estado do campeonato português e considerou que os jogadores de equipas de menor dimensão têm mais facilidade em dar o salto para os três grandes.

«Olhando para os antepassados, tivemos, em diferentes momentos, equipas vencedoras: o FC Porto, depois de o presidente [Pinto da Costa] assumir, nos anos 80; o Benfica no tempo do Simões, Coluna, Eusébio; os 5 violinos do Sporting. Faziam parte da seleção nacional e estavam durante cinco ou 10 anos os mesmos jogadores. Lutavam por títulos europeus. Sou de uma equipa do FC Porto onde a base era toda da formação. Hoje, com a lei Bosman, que permitiu uma diversificação dos jogadores, os bons, os menos bons e os mais ao menos, vão todos embora. Já tive esta conversa com os meus jogadores. Hoje, é muito mais fácil um jogador do Rio Ave, do Famalicão ou do Arouca estar no FC Porto do que antigamente», sublinhou.

«É muito difícil guardar os melhores jogadores durante quatro anos. Se conseguíssemos, se tivéssemos essa capacidade financeira, estaríamos a ombrear com os tubarões da Europa por título europeus. Assim, é muito mais difícil. Hoje, um miúdo chegar à primeira equipa é fácil. Eu andei três anos emprestado à II Liga. E disseram-me que só me deixavam fazer a pré época, depois… Há muito equilíbrio? Se calhar, os grandes é que estão diferentes do que eram há uns anos. Hoje, está muito nivelado. A maior parte do nosso plantel e aquisições são dois ou três do Santa Clara, Famalicão… Fica mais fácil para as equipas pequenas equilibrar os jogos. Muitas vezes, se não conhecesse o campeonato, a ver as equipas grandes a jogarem com o Vitória, com o Rio Ave, equipas que não lutam pelo mesmo objetivo que nós, trocava as camisolas e não via grande diferença. Há dois ou três que se nota a diferença e há qualidade, as equipas técnicas estão muito mais bem preparadas e trabalham bem», vincou.

O treinador do FC Porto lamentou ainda que o círculo que rodeia os jogadores também influencie o dia a dia do clube. «Lembro-me que, há uns anos, existia o senhor Manuel Barbosa como empresário, não havia mais. Atualmente, um jogador tem cinco empresários: o principal, o que trabalha a imagem, a comunicação...São empresas incríveis. Não tenho nada contra isso, até porque joguei fora durante muitos anos e muitas vezes o meu empresário não me ligava durante anos e eram os clubes que me ligavam. Acho que os empresários fazem bem ao futebol para aquilo que é o bem do jogador, em situações em que não têm a possibilidade de se mostrar e eles encontram soluções. Mas que também traz coisas negativas, traz. É muito difícil eu, treinador, controlar ou bloquear determinadas situações dentro do Olival. As pessoas falam com muita gente.»