José Pereira da Costa é o nome escolhido por André Villas-Boas para responsável financeiro do FC Porto.

Numa apresentação ao final da tarde desta quinta-feira, na sede de campanha do candidato, na zona da Boavista, no Porto, Villas-Boas referiu-se àquele que foi Chief Financial Officer da empresa de telecomunicações NOS até dezembro último como o «mais qualificado CFO» que poderá exercer funções no futebol português.

«O clube aparenta ser um quintal com uma galinha de ovos de ouro, que serve alguns enquanto o seu futuro está cada vez mais hipotecado», afirmou Villas-Boas num discurso em que criticou uma «gestão gasta e antiquada» e uma «comunicação agarrada ao passado, que teima em se expandir com guerrilhas que limitam o seu crescimento».

Villas-Boas salientou que 85% dos associados vivem nos distritos de Porto, Braga e Aveiro e de que hoje se fala «em dívidas, processos e saídas a custo zero», prometendo viabilidade financeira com «um modelo de gestão mais rigoroso assente em profissionais credíveis, reconhecidos pelo mercado.»

«Situação atual implica gerar 60 milhões/ano de mais-valias em passes de jogadores»

Pereira da Costa, sócio do FC Porto desde 1971 e administrador financeiro com mais de duas décadas de experiência, qualificou como «muito preocupante» o atual estado das finanças portistas.

Neste momento, a SAD tem uma gestão operacional ligeiramente negativa. Porém, aqui acrescem 20 milhões de euros de encargos financeiros por uma dívida financeira de 310 milhões, além de amortizações anuais de 30 a 40 milhões de euros pelas transferências de jogadores, sustentou, detalhando:

«Esta situação implica que tenhamos de gerar 50 a 60 milhões mais-valias em passes dos jogadores para equilibrarmos resultados. Isto implica vender todos os anos 70 a 90 milhões, o que tem um impacto negativo desportivo na gestão do plantel.»

«Tivemos resultados acumulados de 250 milhões de euros negativos em 10 anos, temos um passivo de 530 milhões e uma dívida de 310 milhões», começou por descrever, questionando: «Porque é que no FC Porto fizemos vendas de 430 milhões nos últimos seis anos, mas só foram registados 30 milhões? Ou seja, 7 por cento após abatidos os custos associados, amortizações e imparidades. Um dos nossos rivais fez vendas no mesmo período de 570 M€, com resultado de 200 M€: 35 por cento; o outro realizou vendas de 400 M€, com o resultado de 170 M€: 40 por cento.»

Pereira da Costa salientou que no último exercício de 2022/23 as vendas de lugares anuais (excluindo “corporate”, “business” e camarotes) ascendeu a 10,8 milhões de euros, comparando com os 19,8 milhões e 13,6 milhões dos rivais, «sendo que este último [o Sporting] tem uma assistência média na Liga 30% inferior ao FC Porto». O candidato destacou ainda que o FC Porto tem receitas de merchandising entre 8 a 9 milhões por ano, mas cerca de 2 milhões de euros de custos com essas mercadorias, e que as despesas de representação ascendem a 1,4 milhões de euros por ano – 5,4 milhões nos últimos quatro exercícios – quando há seis anos esse valor ascendia a 500 mil euros. Mais: o candidato a CFO do FC Porto destacou ainda os três milhões de euros gastos na rubrica de «fornecimentos e serviços externos não discriminados ou explicados».

Objetivo: diversificar financiamento e renegociar dívidas

Feito o diagnóstico, o candidato prometeu «um modelo operacional mais rigoroso, mais leve, disciplina financeira e orçamental, com racionalização de custos e aproveitando todas as oportunidades de negociação de contratos e dívidas.»

Para Pereira da Costa a estratégia passa por um aumento das receitas e crescimento da marca FC Porto. «É possível fazer melhor na bilhética, no merchandising, nos sponsors e na rentabilização do estádio. Bem como aumentar o valor dos ativos, com a aposta na formação e reforço do scouting, e reduzir o custo inerente às transações de jogadores, tanto na compra como na venda.»

Em relação à dívida, o homem das finanças de André Villas-Boas afirma que para «restabelecer credibilidade que o clube merece» será necessário «diversificar fontes de financiamento», bem como «renegociar prazos mais longos, para aliviar a pressão sobre a tesouraria no curto prazo».

Tudo isto com «uma administração mais ligeira em custo» do que a atual, que no último exercício recebeu 3,6 milhões de euros entre remunerações fixas e prémios.

Pereira da Costa apresentou em traços gerais o seu projeto numa apresentação que contou na assistência com a presença, entre outros, da viúva de José Maria Pedroto, do advogado António Lobo Xavier, membro do Conselho de Estado, antigo dirigente do CDS e antigo membro da SAD do FC Porto (que deixou em 2002), ou do economista Luís Menezes, ex-deputado do PSD, que deixou recentemente a administração da Unilabs.