Apesar das dificuldades de um clube que esteve à beira da bancarrota, este não é o maior desafio na carreira de Fernando Santos. Treinar o AEK de Atenas é apenas mais uma etapa numa carreira construída a pulso e com muitas críticas pelo meio. Na Grécia sente-se feliz, porque não é analisado pela cara sisuda que os adeptos e jornalistas se habituaram a observar. É analisado pelo seu trabalho. «Caí em graça sem ser engraçado», admite em entrevista telefónica ao Maisfutebol.
Maisfutebol: Tendo em conta os objectivos traçados para o futuro e as dificuldades no início, considera que este é o maior desafio da sua carreira?
Fernando Santos: Não. O maior desafio da minha carreira foi treinar o Estoril e colocar uma equipa de meninos com 17 e 18 anos na 1ª Divisão. Depois, o outro desafio da minha carreira, de circunstâncias semelhantes, foi ir do Estrela da Amadora para o F.C. Porto, um clube quatro vezes campeão de Portugal. Assumi o risco de ser pentacampeão, aquilo que nunca nenhuma equipa portuguesa tinha conseguido antes.
Se for campeão pelo AEK este título terá mais sabor do que o pentacampeonato do F.C. Porto?
Todos os títulos têm muito sabor. O pentacampeonato foi qualquer coisa que marcou a minha carreira, mas conseguir a melhor classificação de sempre do Estrela da Amadora [sétimo lugar em 1997/98] também foi marcante, assim como levar o Estoril à 1ª Divisão. Cada coisa no seu lugar. Não podemos dizer que este é mais importante do que aquele, porque tudo tem a sua história e a sua importância.
O AEK é um amor?
Se calhar é. Na vida mais vale cair em graça do que ser engraçado. Engraçado não sou por natureza, é o que dizem as pessoas. Mas no AEK caí em graça sem ser engraçado. Aqui se não me rir isso nada tem nada a ver com aquilo que as pessoas acham em relação ao meu trabalho.
É uma crítica ao que se passa em Portugal?
Não faço nenhuma crítica, mas uma constatação. Aqui não sou analisado por não me rir, por não fazer esta ou aquela cara, sou apenas analisado pelo meu trabalho. Não sou analisado por ser mais ou menos simpático. Só pelo meu trabalho.
No AEK tem sempre sucesso, ao contrário do que aconteceu no Panathinaikos. O que faltou nesse clube?
Não faltou nada. Só faltei eu. Hoje toda a gente sabe que não faltou nada, até os adeptos do Panathinaikos. Um adepto do Panathinaikos esteve aqui comigo, há pouco, e reconheceu isso. Apenas faltou paciência da minha parte. Estava há ano e meio fora de Portugal. Há coisas que não entendemos porque as fazemos, mas foi assim.