Não foi na jornada 31, mas na 32. Não foi ao minuto 73, mas ao 75. A verdade é que Raúl Jiménez voltou a decidir em Vila do Conde e lançou praticamente em definitivo o Benfica para a conquista do título: ao fazer o golo solitário de um triunfo suado sobre o Rio Ave (0-1), é, portanto, a figura da jornada para a redação do Maisfutebol.

Esta distinção não seria propriamente expectável numa segunda época em que o ponta-de-lança mexicano voltou a não ser primeira opção frequente para o ataque encarnado.

Jiménez foi titular apenas pela quinta vez na Liga (já não o era desde 17 de dezembro, na 14.ª jornada), onde fez apenas 657 minutos e marcou seis golos. Fez mais um golo no campeonato do que na época passada, em que jogou até jogou mais (ver quadro). Voltou a ser uma época abaixo das expetativas, em termos individuais. Ainda assim, nada ofusca este brilho final e a última imagem é a que fica.

Jiménez na Liga:

  Jornadas a titular (total) Minutos Golos
2016/17 5 (17) 657 6
2015/16 8 (28) 895 5

Aos 26 anos, Jiménez poderá impor-se no futebol europeu?

Ricardo Peláez acredita que sim e sublinha-o em declarações ao Maisfutebol: «Com a qualidade que tem e já adaptado, pode fazer daqui em diante seis ou sete épocas de excelente nível na Europa.»

Peláez ocupou até última semana o cargo de presidente do Club de Fútbol América, clube onde Jiménez despontou nos escalões jovens e que representou como profissional nos primeiros anos de carreira, e bem antes do dirigismo e do comentário televisivo foi ponta de lança não só do América, do rival Chivas e do Necaxa, bem como da seleção do México (16 golos em 43 internacionalizações na década de 1990). Tem portanto uma opinião abalizada sobre um jogador e uma posição que conhece bem:

Jiménez tem tudo: velocidade, técnica, jogo aéreo, presença física, juventude… Não é um ponta-de-lança que obriga a equipa a jogar para si, mas ele próprio cria ocasiões de golo.»

Peláez prossegue, salientando que «além de ser um grande jogador, Jiménez é uma excelente pessoa: um rapaz de boa família, a quem os pais passaram valores», salienta, acrescentando: «São uma família de classe média, a mãe trabalha nas linhas aéreas. Mantenho contacto com eles. Ainda na semana passada falámos ao telefone e eles estão felizes com a carreira do filho.»

O ex-dirigente, que foi ainda diretor desportivo da seleção mexicana entre outubro de 2013 e julho de 2014, recorda ainda a forma como desde cedo o rapaz nascido no Cinco de Mayo (feriado mais importante para a comunidade mexicana) em Tepeji del Rio de Ocampo, nos arredores da grande metrópole que é Cidade do México, despontou na popular equipa da capital.

Ele subiu à primeira equipa e não demorou a ser chamado à seleção de sub-23 (Torneio de Toulon e Jogos Olímpicos de 2012) e de seguida à seleção principal. A partir daí, começámos a receber abordagens de vários clubes europeus.»

Jiménez esteve na mira do FC Porto, mas acabou por sair para o Atlético de Madrid em 2014/15. Na época seguinte, num negócio com a intermediação de Jorge Mendes, o Benfica contratou o mexicano por uma verba recorde de 22 milhões de euros.

Jiménez havia feito o seu último golo na Liga, de grande penalidade, frente ao Estoril, a 17 de dezembro

Um investimento pesado, que só pontualmente tem tido o seu retorno. De tal forma que, em janeiro último, foi noticiada uma viagem de Luís Filipe Vieira e de Jorge Mendes à China numa tentativa de vender o mexicano.

Jiménez ficou e agora, quase meio ano depois, voltou a marcar na Liga (não o fazia desde a jornada 14, a 17 de dezembro, na última vez que foi titular, frente ao Estoril, também numa vitória fora por um tangencial 0-1.

Dois dias depois do seu 26.º aniversário, comemorado com os companheiros de equipa mais chegados, Jiménez deu um pontapé na crise de golos. Da ponta das suas botas deu aos benfiquistas o presente mais desejado, ao encaminhar quase em definitivo a conquista de um inédito tetracampeonato para o clube.