A 10 de fevereiro de 2013, Tozé estreou-se pela equipa principal do FC Porto. Pela mão de Vitor Pereira, o talentoso médio formado nas escolas do Dragão fez 24 minutos contra o Olhanense.

O Maisfutebol investigou, a reboque da efeméride, as suas raízes portistas e as outras paixões que tem na vida. Descobrimos que Tozé é um aluno de 20 na área da veterinária e que tem no céu uma estrela a olhar por si: o avô Amândio.

Um ano e nove meses depois, Tozé voltou a estar no mesmo relvado do plantel A do FC Porto. Desta vez do lado contrário.

Por obra do destino, este Estoril-FC Porto realizou-se no dia em que o avô de Tozé cumpriria mais um aniversário, se ainda estivesse entre nós. Por ordem de José Couceiro, o centrocampista emprestado pelo FC Porto marcou o segundo golo a Fabiano.

Nenhum dragão fazia isto ao próprio FC Porto há dez anos. O último foi Pena («É como marcar contra a família»).

No momento em que partiu para o penálti, Tozé abraçou a memória do avô. Honrou-a. «Só quis que ele voltasse a ter orgulho em mim, como teve no dia em que me estreei pelo FC Porto».

Tozé partiu para a bola e marcou. Não celebrou, por respeito ao clube do coração. Após o jogo terá sido incomodado por responsáveis azuis e brancos, incapazes de perceberem o profissionalismo e a coragem do futebolista.

O jogador do momento, pelos melhores motivos, é Tozé. A entrevista exclusiva ao Maisfutebol revela a inteligência incomum de um homem ainda a recuperar das emoções fortes da véspera.

Recusa a polémica, reafirma o amor pelo FC Porto e lamenta a reação extrapolada de alguns dos seus responsáveis. «São coisas que acontecem», insiste. «Tem tudo a ver com o calor do jogo».

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É jogador do FC Porto e viveu um momento incomum. Agora a frio, já consegue explicar tudo o que viveu antes, durante e depois do reencontro?
«Foi tudo muito emotivo para mim. O Porto é e sempre será o meu clube do coração. Fiz tudo o que podia para ajudar o Estoril, onde tenho sido muito bem tratado. Saio com o sentimento do dever cumprido, feliz pelo que fiz. A noite foi forte, muito forte, pois era também o aniversário do meu falecido avô. Ele era um portista a sério, acompanhou sempre os meus jogos nas camadas jovens do FC Porto, tinha de dar o meu melhor por ele»
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Foi nele que pensou ao partir para o penálti?
«Sem dúvida. Foi emocionante. Treino muitas vezes os penáltis nos treinos. É um momento completamente diferente de tudo o resto. Há uma grande probabilidade de marcar, mas se falhar o guarda-redes é um herói e eu um bandido. A responsabilidade era enorme e sabia o que iriam dizer se eu falhasse. Fui trabalhando mentalmente esse tipo de lances e juntei a isso o exercício técnico. São instantes que definem jogos».

Fez dois jogos na I Liga pelo FC Porto. Que memória guarda deles?
«Curiosamente, ambos foram contra o Olhanense. Foi fantástico, cumpri um sonho de criança. O primeiro, principalmente esse, foi extraordinário. Uma sensação única. O mister Vitor Pereira lançou-me e tentei corresponder. Fiz alguns remates, arrisquei, não podia mostrar medo».

Fez 40 jogos e marcou 21 golos a época passada na equipa B do FC Porto. Com esses números certamente pensou numa promoção ao plantel principal.
«Depois da temporada que fiz, muita gente me disse que eu tinha fortes hipóteses de ficar. Acreditei nisso também, mas acabei por não continuar. Não fico triste. Estou a jogar na I Liga e pretendo fazer tudo bem para crescer e mostrar qualidade para voltar ao FC Porto»
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Havia talento na equipa B para o FC Porto aproveitar? Os resultados e o ambiente, por aquilo que se via, eram ótimos.
«O grupo era extraordinário. Dentro e fora do campo. Criámos laços muito fortes. Almoçávamos juntos, jantávamos às vezes, tínhamos uma relação de longa amizade. Isso era refletido durante os jogos. Dávamos a vida pelo clube, colocávamos muita paixão no que fazíamos».

E agora está pela primeira vez longe do Porto. A experiência no Estoril está a corresponder às expetativas?
«Sem dúvida. Tenho melhorado com os jogos, a equipa também e vamos subir muito na classificação. Não tenho dúvidas. Fizemos um bom jogo em Moscovo e agora contra o FC Porto também. Devíamos estar mais acima na tabela, mas começámos mal. As pessoas têm sido fantásticas comigo, só posso dizer bem do Estoril e dos seus responsáveis».

Estava desde 2005 no FC Porto. Como lidou com a saída por empréstimo?
«Estou a ter a minha independência como futebolista. Foi um passo importante, abandonei a minha zona de conforto, onde estive nove anos. Há muita gente a apoiar-me, a ajudar-me, a puxar por mim e estou a aproveitar. Queria jogar na I Liga e mostrar o que valho. Tive números fantásticos na II Liga e este era o passo a dar. Fiz 21 golos, como médio. Creio que deixei a minha marca na equipa»
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O Estoril vive uma fase histórica. Que clube encontrou?
«É um clube com uma organização brilhante. Os futebolistas têm tudo à sua disposição, os responsáveis não nos faltam com nada. Estou orgulhoso por vestir esta camisola e envergá-la na I Liga e nas provas da UEFA. O treinador [José Couceiro] fala muito comigo, apoia-me, percebe-me e sinto ter total confiança dele no meu futebol. Ele pode contar comigo e sei que posso contar com ele».

OPINIÃO: O penálti de Tozé faz-nos bem à cabeça