O título do artigo não agrada a Gerso. Nada contra o senhor padre em causa, tudo contra o estatuto de arma secreta.

O avançado do Moreirense, 24 anos, é a Figura da Jornada e explica ao Maisfutebol esta aversão ao termo em destaque.

«Por um lado é bom, mas prefiro ser titular. Não quero que as pessoas olhem para mim e achem que só agito quando saio do banco. Posso agitar os jogos desde o início».

Gerso marcou ao Gil Vicente e garantiu a manutenção ao emblema de Moreira de Cónegos. Depois de ter sido lançado, uma vez mais, por Miguel Leal. Foi a 15ª vez em 25 jornadas de campeonato.

«Tinha mais ambição, quando saí do Estoril por empréstimo. Tenho jogado, sido útil, mas não tanto como queria. Fico feliz pelos golos que já marquei [três na Liga e um na Taça da Liga], pois em três anos no Estoril só tinha feito um».  
  
E para fechar a parte da arma secreta, algo que Gerso rejeita ser em exclusivo, o extremo deixa mais uma ideia. Por nossa parte, comprometemo-nos a deixar de olhar para ele apenas como um excelente suplente. Assim queiram também os seus treinadores.

«O meu objetivo é jogar mais e afirmar-me na I Liga. Ser só arma secreta não é o que quero para mim».  

Números de Gerso no futebol sénior:

2010/11: Tourizense (II B), 12 jogos oficiais/0 golos
2011/12: Estoril (II Liga), 27 jogos/0 golos (15 como suplente)
2012/13: Estoril (I Liga), 29 jogos/0 golos (21 como suplente)
2013/14: Estoril (I Liga), 28 jogos/2 golos (25 como suplente)
2014/15: Moreirense (I Liga), 25 jogos/4 golos (19 como suplente)

Gerso tem contrato com o Estoril até 2016. Após três temporadas nos canarinhos, o jogador nascido na Guiné-Bissau rumou ao Norte.

«O segredo deste clube é a organização. O Moreirense é o reflexo da direção e do treinador que tem. A exigência é grande e isso permite ultrapassar as limitações de ser o emblema de uma pequena vila», continua.

E o melhor golo da época foi este? «Não. Foi em Barcelos, também contra o Gil Vicente. Fiz um pontapé acrobático e tive sorte. Foi o melhor golo da minha carreira».



A carreira de Gerso é, porém, tudo menos normal. Lembram-se do padre que está no título? Pois, foi por culpa dele que Gerso esteve dois anos afastado do futebol, impedido de fazer o que mais gosta, como conta ao nosso jornal.

Nascido em Bissau, Gerso veio para Portugal com quatro anos. Viveu três anos em Lisboa, antes de rumar à Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, perto de Coimbra. «A minha mãe estava sozinha e achou que era o melhor para nós. Foi uma passagem importante na minha vida»
.

O avançado do Moreirense esteve na instituição dos sete aos 16 anos. E só saiu, como atrás dizíamos, por ter sido impedido de jogar futebol.

«Primeiro tinha aulas durante o dia e treinava à noite. O problema começou quando passou a ser obrigatório para rezar o terço, às sete e meia. O padre responsável não via com bons olhos a opção pelo futebol e nos juvenis não joguei».

Gerso estava por essa altura no União de Coimbra. Regressou aos campos, depois do hiato imposto, para vestir a camisola da Académica de Coimbra. Dois anos nos juniores, um ano emprestado ao Tourizense e o salto para o Estoril.

«Fui treinar às captações e depois de uma semana fui escolhido. Acharam que podia ser útil. Conheci pessoas fantásticas, até estive no primeiro jogo do Marco Silva. Perdemos em Penafiel e eu fui o 19º na convocatória. A nossa relação não começou bem (risos)».
 

Gerso em ação contra a «sua» Académica

«Consegui entender facilmente as ideias do Marco Silva»

Marco tornou-se numa das figuras marcantes no percurso de Gerso. «É fantástico. É treinador para um clube grande, sem dúvida. Consegui entender com muita facilidade as ideias dele. Aliás, a boa comunicação entre ele e o grupo foi a chave do nosso sucesso».

Além de Marco Silva, Gerso destaca Vaz Pinto e Hassan Adjenoui, treinadores nos sub19 da Briosa.

Perto do fim, a conversa vai ter a outros nomes. «O meu ídolo? O Cristiano Ronaldo, sempre. Espero que tenha muitos anos a jogar futebol pela frente».

«Os dois melhores futebolistas com quem joguei? Evandro e Carlos Eduardo. A forma de jogar do primeiro fascinava-me, o segundo pode ir muito longe»
.

Arma secreta ou não, Gerso é a Figura da Jornada e um excelente comunicador.