Ao deixar Mario Balotelli fora da sua primeira convocatória alargada - 27 homens - como selecionador italiano, Antonio Conte sabia os riscos a que se expunha. Colecionador de cartões amarelos, o agora avançado do Liverpool até estaria suspenso para o primeiro jogo oficial de qualificação para o Europeu, mas esse impedimento não impediu que Conte chamasse Claudio Marchisio, a quem deu a titularidade no particular de sexta-feira, com a Holanda, mesmo sabendo que não o poderia usar nesta terça, diante da Noruega.

Por outras palavras, Conte quis mostrar a Balotelli que a sua influência no grupo – apontada, por alguns jogadores, como decisiva para o mau desempenho no Mundial do Brasil – não era a de outros tempos. Uma cartada que precisava de ser bem coberta pelas alternativas de ataque. E, numa lista com Destro, El Shaarawy, Immobile, Osvaldo e Giovinco, poucos esperariam que o homem que nestes dois jogos se encarregaria de apagar dos registos a memória de «Supermario» seria um estreante de 23 anos, com pouco mais de 30 jogos e 10 golos na Série A.



Formado na Atalanta, Simone Zaza não foi um jovem prodígio de glória anunciada na adolescência, ao contrário de Balotelli: embora se estreasse na Série A antes dos 18 anos, precisou de quatro temporadas de empréstimos e desilusões sucessivas em equipas pequenas para recuperar a pulso o seu lugar na elite.

Emprestado pela Sampdoria, é no Ascoli, em 2012, que volta a dar nas vistas: marca 18 golos na série B e, embora não consiga evitar a despromoção da equipa ao terceiro escalão, acaba por justificar o interesse da Juventus, que paga 3,5 milhões ao clube de Génova, antes de dividir o seu passe com o Sassuolo.

É para lá que vai, no verão de 2013, ganhar corpo e experiência nos duelos corpo a corpo do Calcio. E é lá que, apenas há um ano, fez valer os seus 187 centímetros para marcar, de cabeça, o primeiro golo da sua carreira na Série A. Até final da época, seguem-se mais oito, que ajudam o Sassuolo a evitar uma despromoção anunciada e o tornam num ídolo dos adeptos da equipa de Reggio Emilia. A tal ponto, que os seus responsáveis decidem quebrar o mealheiro e pagar 7,5 milhões de euros à Juventus pelo seu passe – embora o clube de Turim mantenha uma cláusula de recompra, fixada em 15 milhões.

Tudo acontece muito rapido para Zaza, que é chamado por Prandelli para um estágio de observação, antes do Mundial, mas sem surpresa fica de fora. Nada de grave, a sua hora está para breve. Depois do fiasco brasileiro, Conte quer renovar e reclama sangue novo. Zaza deixa crescer a barba, rapa o cabelo, perde de vez o ar de adolescente. No estágio, o avançado do Sassuolo combina bem com Immobile e encaixa no 3x5x2 que o técnico pretende impor na «azzurra». Além disso, mostra uma ambição que Balotelli, mimado desde a adolescência, nunca conseguiu transmitir ao coletivo, apesar de todas as explosões dispersas de talento.

A estreia com a Holanda é de sonho: Zaza força um penalti que custa a expulsão ao portista Indi e desbrava o caminho a vitória da nova Itália. Encorajado, Conte mantém-no no onze para uma estreia competitiva potencialmente complicado, em Oslo. E é do seu pé esquerdo que, ajudado por um ressalto feliz, nasce o golo que embala a Itália, desde o primeiro dia, para o lugar que parece seu de direito: o da liderança no grupo H. «Supermario» terá agora de dar o melhor de si mesmo para voltar à «azzurra»: do outro lado, está um SuperZaza com fome de conquistar o mundo e, até ver, com os deuses da sorte do seu lado.