Filipe Alvim colocou, aos 25 anos, um ponto final na sua carreira como futebolista, devido a uma forte arritmia cardíaca, definida como miocardiopatia, que se começou a fazer sentir quando o jogador representava a Académica de Coimbra, acentuando-se na passagem, por empréstimo, pelo Corithians. O atleta brasileiro realizou o seu último encontro oficial em Novembro de 2004, frente ao Cruzeiro, e só recentemente percebeu a dimensão do seu problema, que o impede de fazer elevados esforços físicos, após sucessivas análises promovidas pelo médico do clube paulista, Paulo Farias. Olhando para trás, em contacto com o Maisfutebol, Filipe Alvim lamenta o facto de a Académica não ter detectado o seu problema, interpretado antes como asma, e reclama uma dívida do clube de Coimbra, com quem tinha contrato até 2007, antes da rescisão amigável no início de 2005.
O agora ex-jogador, actualmente com 26 anos e a morar em Juíz de Fora (Minas Gerais), acusou a Académica de ter «errado o diagnóstico» e, como tal, ter colocado a sua vida em causa. O médico Paulo Farias, contudo, é o primeiro a defender o corpo clínico do clube conimbricense, que emitiu um comunicado a garantir que Alvim não padecia de qualquer problema grave de índole cardíaca na altura em que representou a Briosa. «De facto, o problema só se terá agravado depois, porque eu recebi toda a informação clínica do Filipe Alvim quando ele chegou ao Corinthians e a verdade é que ele ainda jogou aqui, mas só depois de alguns sustos é que fomos tentar perceber o que realmente se passava e descobrimos esse problema, mas é impossível saber quando se agravou», explicou o médico do Corinthians.
Filipe Alvim chegou a Coimbra no início da temporada 2003/04 e, em Janeiro de 2004, num encontro com o E. Amadora, teve o primeiro sobressalto, debatendo-se com falta de ar. Após bateria de exames adicional, a «arritmia no pico máximo do esforço» foi conotada com asma, tendo o jogador recebido medicação para o efeito. «Estive até há bem pouco tempo a tomar isso, para nada», desabafa Alvim, que voltou a sentir algumas dificuldades nos meses seguintes, numa altura em que se chegou a falar de um pré-acordo com o Sporting. Foi emprestado ao Corinthians e fez o último jogo oficial em Outubro desse ano, voltando a sentir-se mal. De regresso a Portugal, foi confrontado com a proposta da Académica para a rescisão do contrato: «Era a forma de eles se livrarem de um problema e eu também não queria ficar a receber sem jogar. Não queria ser um fardo».
A dívida da Académica e um futuro sem o futebol
Filipe Alvim reclama, agora, uma dívida da Académica. «Quando saí, tinha valores por receber e regressei ao Brasil. Depois de quatro meses sem qualquer contacto ou explicação, regressei a Portugal em Abril de 2005 e, para não estar a arrastar o problema ou a querer que me pagassem só pela minha situação, aceitei receber em oito parcelas 35 por cento desse valor em dívida. Mesmo assim, só recebi metade e a Académica devia, pelo menos, honrar esse compromisso. Vou esperar, o Sindicato de Jogadores daí está a ajudar-me e o clube devia ter alguma sensibilidade. Senão, vou aí e já não me contento com os 35 por cento, vou querer receber tudo», avisa.
De olhos postos no futuro, Filipe Alvim não alimenta a possibilidade de voltar a jogar futebol, agradece por estar vivo e espera encontrar novo rumo para a sua vida, depois de penduradas as chuteiras. «Foi muito duro para mim, mas tem sido Deus a guiar o meu caminho. Com as mortes que têm acontecido nos relvados de futebol, só tenho de agradecer por estar vivo e seguir em frente. Se voltar a poder jogar um dia, tudo bem, mas nem penso nisso. Estou a tirar o curso de Educação Física e a estudar a possibilidade de abrir uma escola de futebol. Gosto de futebol e de administração, pode ser que dê para arranjar algo entre essas duas coisas», conclui, esperançado.