A propósito do falecimento de Eusébio,  Maisfutebol  homenageia o «Pantera Negra» recuperando alguns textos anteriormente publicados sobre as suas proezas.

Benfica-Real Madrid, 5-3

2 de maio de 1962

Estádio Olímpico, em Amesterdão

«Eles estão velhos», repetia Bella Guttmann antes da final de Amesterdão, a quebrar barreiras mentais. O Benfica era o campeão europeu em título, uma equipa mais crescida que a de Berna, mas o adversário era o grande Real Madrid, cinco vezes campeão da Europa nos últimos seis anos. Mas aquela ladaínha de Guttmann não era só estratégia do treinador. Também era um facto, que o jogo confirmou. E Eusébio, com apenas 20 anos, tornou-se aí a estrela maior no panorama europeu.

A final teve uma «velocidade invulgar para aqueles tempos, bola sempre cá e lá, toda a gente a correr», recorda Simões, depois de rever aqueles 90 minutos, muitos anos mais tarde. «Não tenho dúvidas de que esse ritmo ajudou o Benfica», admite o antigo jogador, num depoimento para o livro Sport Europa e Benfica, do Maisfutebol.

O Real Madrid entrou melhor, aos 23 minutos Puskas já tinha marcado dois golos. Mas o Benfica respondeu logo a seguir, numa recarga de Águas a um livre. Aos 34m Cavém fez o 2-2. Mas não ficaria por aí antes do intervalo. Puskas completou o «hat-trick» aos 38m e o Real foi para o balneário na frente.

A segunda parte levava cinco minutos quando Coluna encheu o pé e deu o sinal para a reviravolta. 3-3. Depois foi Eusébio. Um raide de meio campo pela direita travado na área, penalty convertido e o Benfica na frente. A seguir, um livre que o próprio Di Stefano descreveu na sua autobiografia como um momento simbólico de passagem de testemunho. «Don Alfredo» na barreira, a bola batida por Eusébio a passar-lhe por baixo do pé e a seguir até à baliza.

Isto é o que nós vemos agora. Naquele dia, Eusébio era apenas um miúdo de 20 anos fascinado pelo seu ídolo. É ele quem o revela assim mesmo ao Maisfutebol: «A Taça não me dizia nada, o que eu queria era a camisola de Di Stefano. No final tirei a minha e corri para ele. Os outros corriam para a Taça, eu corria para a camisola.»

Corria Eusébio, corriam os adeptos do Benfica que viajaram de barco até à Holanda, corriam os emigrantes e corriam os jogadores, apanhados na invasão de campo e na enorme confusão que se seguiu ao apito final. Ângelo chegou a perder os sentidos, Águas foi arrastado pela multidão e acabou por ser Costa Pereira a levantar a Taça.

Foi há 51 anos. Em Amesterdão, a cidade onde o Benfica ganhou na Europa pela última vez e onde Eusébio, com apenas 20 anos, se instalava entre os grandes do futebol mundial, para nunca mais de lá sair.

Onze do Benfica: Costa Pereira; Mário João e Ângelo; Cavém, Germano e Cruz; José Augusto, Eusébio, Águas «cap», Coluna e Simões.