O barulho dos pitons no alcatrão, à saída do balneário. A corrente de ar que se sente na espinha, ao atravessar aquele infindável túnel. A luz que vem das escadas e inspira a subida, mesmo com as pernas a tremer. Respirar fundo, uma vez mais, e enfrentar a decisão. Podia perfeitamente ser o Sporting-Académica, mas não. Uma semana antes, o Estádio Nacional recebeu a final da Taça de Portugal de Futebol Feminino.

O duelo entre 1º de Dezembro e Albergaria foi visto «in loco» por cerca de quatro mil pessoas. O ambiente não foi o mesmo que teremos daqui por oito dias, é certo, mas a magia do Jamor anda sempre no ar. O ritual do piquenique antes do jogo, sempre com calor (mesmo com céu encoberto). O apoio às equipas no momento da chegada ao estádio. O hino, antes do apito inicial, sentido por trinta e seis jogadoras portuguesas, de olhos postos na tribuna, onde mais tarde se fez a festa. Do 1º de Dezembro, undecacampeão nacional, como se esperava. «A nossa entrada em jogo foi arrasadora», disse o técnico Nuno Cristóvão, no final.

Paula Pinho, treinador do Albergaria, assumiu que a vitória da equipa de São Pedro de Sintra foi «justíssima». «Acusámos o peso deste jogo. Pagámos caro o preço da inexperiência. Os primeiros quinze minutos foram terríveis», lamentou.

A «dobradinha» está garantida, mas o 1º de Dezembro não relaxa em demasia, já a pensar na receção ao Boavista, para a última jornada do campeonato. «Queremos, pela primeira vez na história, acabar uma época sem qualquer derrota em jogos oficiais. Com objetivos claros é mais fácil motivar», defendeu Nuno Cristóvão.

Já depois de elogiar o colorido que as gentes de Albergaria-a-Velha deram à festa, o treinador do 1º de Dezembro mostrou confiança no futuro do futebol feminino. «Nunca abdicámos da equipa de sub-18. A ambição das raparigas que estiveram na bancada, a fazer claque, é um dia estar ali no relvado», afirmou.

O técnico vencedor elogiou também o trabalho desenvolvido no Albergaria por Paula Pinho, uma treinadora que «sabe bem para onde quer levar a equipa, que está a crescer». O futuro parece promissor, e entregue a talentos como Beatriz Alves, que com apenas 14 anos teve a oportunidade de jogar no Estádio Nacional. «Foi um grande prazer. Senti muito nervosismo, mas é normal. Não vencemos, mas demos o nosso melhor. Para o ano voltamos», disse no final.

1º de Dezembro e Albergaria deram mais um importante contributo para a promoção do futebol feminino, que merece continuar a marcar presença no mítico palco. O Jamor não olha a géneros. E talvez um dia se encha para a ocasião.