Em 2006 escolhemos o inimigo para contar a história da mais dolorosa e humilhante derrota do Benfica na Europa: os 7-0 de Vigo, frente ao Celta. O treinador dos galegos era Victor Fernandez, mais tarde com uma passagem infeliz pelo Dragão. O depoimento ficou registado no livro do Maisfutebol, «Sport Europa e Benfica».

«Foi uma noite mágica, especial, porque no futebol atual é quase impossível ganhar por sete golos de diferença a um rival com a categoria do Benfica. Saiu-nos tudo na perfeição, com o estádio dos Balaídos cheio como nunca e muitos adeptos portugueses nas bancadas. Insisto, foi uma noite perfeita, com muito bom futebol da nossa parte e cem por cento de acerto em tudo o que fizemos. Creio que se trata de algo irrepetível: o que se passou não foi normal. O Celta era uma equipa muito boa e quando as coisas lhe saíam bem podia destruir qualquer adversário. Nesse ano marcámos sete ao Benfica e quatro à Juventus na eliminatória seguinte, mas caímos nos quartos-de-final com o Lens, o que foi uma grande desilusão, porque podíamos ter conquistado a Taça UEFA. Curiosamente, o que recordo de mais importante daquele dia é que quando estávamos concentrados duas ou três horas antes do jogo, num hotel muito próximo do estádio, havia uma caravana constante de carros e buzinas de gente do Benfica. Ali, percebi que ia ser um jogo surpreendente, com um ambiente complicado e mais de dez mil apoiantes do adversário em nossa casa. Isso deixou-me preocupado, mas felizmente no terreno fizemos rapidamente a diferença».

Naqueles tempos a gestão de Vale e Azevedo no Benfica era questionada diariamente. Casos e mais casos. Nunca havia sossego. Uma derrota assim colocou gasolina em cima das perguntas dos sócios. O presidente tentou acalmá-los com um insólito pedido de desculpas lido pelo capitão João Pinto na sala de imprensa, ao lado de Paulo Madeira. Mas não seria por ali. A dor era forte de mais. Tinham sido sete golos sem resposta.

O Benfica em breve mergulharia numa crise profunda que acabaria por o deixar fora das competições europeias durante duas longas e dolorosas temporadas.

Nessa noite o Benfica jogou assim: Enke; Andrade, Paulo Madeira, Ronaldo e Rojas; Calado e Kandaurov; Poborsky, João Pinto e Maniche; Nuno Gomes. Jogaram ainda Bruno Basto, Chano e Tahar. O treinador era o alemão Jupp Heynckes. Os golos foram marcados por Karpin (18), Makelele (30), Turdó (40), Juanfran (43), Turdó (51), Karpin (54) e um ex-benfiquista, Mostovoi, aos 61 minutos. Na segunda mão as duas equipas empataram: 1-1.