Fernando Santos estreou-se como selecionador de Portugal a 11 de outubro de 2014. O adversário da sua estreia foi a França, em Saint-Denis. A seleção portuguesa perdeu 2-1 num jogo que fazia parte do calendário do apuramento, mas que não contava para as contas do Grupo I de qualificação, que Portugal terminou no primeiro lugar.

Quando Portugal se apurou para a final deste Euro 2016, Fernando Santos justificou a sua determinação ao longo deste Campeonato da Europa (incluindo estágio) em lutar pelo título de campeão europeu. Inclusivamente, após o segundo empate neste Europeu (com a Áustria, revelou que já tinha dito à sua família que só regressaria a Portugal a 11 de julho, um dia depois da final.

Após o jogo das meias-finais com o País de Gales, Fernando Santos revelou mais um pilar da sua convicção: «Há dois anos traçámos um propósito em Saint-Denis, foi o primeiro jogo que realizei e lembro-me perfeitamente da palestra em que assumimos um compromisso e um propósito de voltar aqui no dia 10 de julho.»

A promessa está concretizada e será frente à França, o tal adversário que venceu Fernando Santos na sua estreia e que tem grande vantagem sobre Portugal na história das duas seleções. O ciclo vai fechar-se depois de a França já ter ganho novamente a Portugal – no particular de setembro do ano passado, o último jogo entre as duas equipas.

O ciclo iniciado em 2014 em Saint-Denis será agora fechado depois de 13 jogos oficiais realizados sem derrotas (entre fase de qualificação e fase final do Euro, com 9 triunfos e quatro empates) e de outros particulares com bons e maus resultados. Este ciclo poderá ser fechado com um título de campeão europeu e, assim sendo, será porque Portugal terá posto um ponto final a 41 anos sem ganhar aos franceses.

Data de 26 de abril de 1975, como se viu, a última vitória portuguesa sobre a França. Desde então, os gauleses ganharam os dez jogos que foram feitos até setembro do ano passado. No total de 24 jogos disputados entre Portugal e os «bleus» a vantagem francesa sobe para 18 vitórias contra apenas cinco da seleção nacional tendo havido unicamente um empate.

Entre estas últimas dez vitórias francesas estão os maiores espinhos atravessados no orgulho luso, nomeadamente, as três ocasiões em fases finais em que as seleções portuguesa e francesa se defrontaram. E aquele que é talvez o maior, porque foi também o primeiro, data do Euro 1984, na primeira de três meias-finais de má memória.

Em Marselha – que nesta quinta-feira voltou a ser talismã para os «bleus» numa meia-final de um Europeu organizado por si ao baterem a campeã do mundo Alemanha rumo à final deste Campeonato da Europa –, a França esteve a um passo de ser eliminada por Portugal. O golo de Platini a um minuto do final do prolongamento que deitou o sonho português por terra nunca convenceu os portugueses de que poderia não ter sido assim.

Esse drama português pode ser recordado mais em pormenor aqui:

E com esse espinho sempre por retirar, a seleção nacional voltaria a cair nas meias-finais de um Campeonato da Europa frente aos franceses em 2000. No torneio organizado por Bélgica e Holanda foi a vez de o penálti de ouro de Zidane cravar o espinho ainda mais em vez de os portugueses o retirarem da carne.

Nas imagens finais da festa francesa, um dos jogadores que secundam Zidane é Didier Deschamps, o atual selecionador francês. As recordações entre portugueses e franceses têm sido muitas com o passar dos anos a colocarem estas duas seleções no topo dos rankings – mas, como se tem referido, com o lado bom a cair para os gauleses.

Assim foi também em 2006, quando Deschamps já não jogava. Mas quando ainda havia Zidane para ser ele de novo a marcar um penalti que, dessa vez, só mudou na competição, mas não na história. No terceiro jogo oficial da história entre as duas equipas, a França eliminou Portugal da terceira meia-final, dessa vez, do Mundial da Alemanha.

O espinho vai sofrer novo impulso no próximo domingo quando o ciclo se fechar em Saint-Denis. Terminar com 41 anos de derrotas com a França permitirá a Portugal aliviar a dor pela primeira vez desde 1984. E haverá mais do que uma desforra. Significará ter ganho o título europeu pela primeira vez.