A Federação Portuguesa de Futebol confirmou ao Maisfutebol que «há treinadores sem o nível III que estão a frequentar o curso de nível IV, casos, por exemplo, de Marco Silva (Estoril) e Pedro Emanuel (Arouca)», ambos da I Liga. Há mais seis situações semelhantes, admitiu a FPF.

Na Liga 2012/13, para além dos já mencionados, mais três orientaram equipas sem ter nível IV: Nuno Espírito Santo (Rio Ave), Paulo Fonseca (P. Ferreira, agora no FC Porto), e Sérgio Conceição (Olhanense/Académica)

A notícia de que havia técnicos a saltar níveis foi avançada pelo jornal «i» e o Maisfutebol foi procurar respostas, depois de Nicolau Vaqueiro, ex-candidato à presidência da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) ter considerado que o caso podia causar danos na classe.

A FPF explicou que «apesar de o curso ser reservado a possuidores de nível III, não houve cursos abertos durante três anos, devido a uma série de compatibilidades que tinham de existir com a secretaria de Estado e outras instituições, mas as pessoas não podiam deixar de trabalhar» durante esse período.

Nessa medida, «a FPF avaliou currículos de acordo com os critérios estabelecidos e permitiu que treinadores ou adjuntos de nível II que tenham trabalhado nos últimos 2 anos pudessem concorrer».

Ou seja, «houve um processo de equivalência para oito treinadores», cujos casos serão presentes «a uma comissão de avaliação, constituída por um júri que engloba membros da ANTF, da federação e ainda dois especialistas».

Reclamações não são novas

Normalmente, a FPF divulga as listas com os nomes dos técnicos que frequentam este cursos, mas neste caso não o fez. Ainda assim, garante que o fará, «como sempre», assim que as equivalências sejam analisadas.

O facto de haver treinadores de II nível a frequentar o curso que começou a 16 de junho levantou alguma indignação junto de outros técnicos, com habilitação de nível III, conforme nos relata Nicolau Vaqueiro. Situações do género não são novas, como se pode ver pelo caso de Fernando Couto.

«Não se pode pôr treinadores contra treinadores, mas houve muitos que pagaram o III nível com o intuito de fazer o IV. O que não se entende é que se faça um curso de nível IV seguido de outro de nível idêntico, com oito candidatos que não tinham nível III», afirmou ao Maisfutebol.

«Não sei se é normal dar-se prioridade aos treinadores que estão nas liga profissionais, mas é uma incorreção a todos os níveis», acrescentou.

De facto, para se frequentar o UEFA Advanced Pro, o nível mais alto, dá-se prioridade a quem treine nas ligas profissionais, ou seja, há uma hierarquia, como se pode verificar numa consulta aos critérios do curso que teve início a 20 de maio. No entanto, o primeiro pré-requisito é, precisamente, ter o curso de UEFA Advanced, o denominado III nível.

Nicolau Vaqueiro diz que alertou «que isto era uma bomba», para depois referir-se à questão das equivalências: «As pessoas em causa são treinadores de excelência, mas a ANTF tem de estar presente! Creio que a ANTF devia ter emitido um parecer forte sobre esta matéria, porque temos de ter credibilidade. Creio que o Estado permite essas equivalências devido a uma Lei de 2012, mas o Estado devia preocupar-se com o rumo do país e não com estas questões desportivas.»

Apesar de considerar que os treinadores de nível III que não foram aceites nos cursos de nível IV «terem o direito de ser ressarcidos do dinheiro que pagaram para frequentar o nível III», Nicolau Vaqueiro lembra que «houve um congresso em que o secretário de Estado falou de todas estas questões e só apareceram 37 treinadores».