Salta, vibra, sofre com a devoção do mais visceral dos fanáticos. Apaixonou-se pelo futebol em menina, nas calles de Campanet, em Maiorca. Os rapazes jogavam à frente, ela ia para a baliza e os pais desesperavam.

«Neste clube Pepe não entra»

Não havia mês em que não chegasse a casa de óculos partidos. A paixão pela bola tudo justificava. Cresceu, respondeu ao maior dos chamamentos, encerrou-se no Convento da Ordem de Palma. Pôs o hábito, o crucifixo ao peito, fez da obediência um plano de vida.

Irmã Serafina cumpriu os desígnios da Igreja, a catarse auto-imposta. Sem hesitar, sim, mas também sem jamais olvidar a paixão secreta. Secreta e profana. Pelo futebol, claro. «Na reclusão a que me submeti não era possível compatibilizar a religião e o futebol. Agora sim», diz ao Maisfutebol.

Madre superiora no Colégio de Santa Mónica, Serafina Vilanova fundou e preside à equipa de futebol da instituição. O clube compete na principal divisão regional das Ilhas Baleares. Sem qualquer ajuda extrassensorial ou influências do Além.

«Rezo muito, mas nunca peço para ganharmos», explica a religiosa, fervorosa dirigente desportiva. «Só uma vez apelei ao Senhor por um resultado desportivo. Foi na final do Mundial 2010, entre a minha querida Espanha e a Holanda».

O apelo foi ouvido. Iniesta vestiu-se de salvador, as preces da irmã Serafina foram escutadas. Depois, desmaiou. «Não sei se foi da emoção ou de não ter comido nada. Mas desmaiei».

O dia em que disse «não sei o quê» a um árbitro

Freira e presidente de um clube de futebol. Máxima responsável por todas as equipas da instituição. Não perde um jogo. E a cabeça? Alguma vez terá sido incorreta com um árbitro ou um adversário? Irmã Serafina sorri.

«Não. Nunca. Ou melhor¿» Sim? «Uma vez num jogo de basquetebol disse não sei o quê ao árbitro. Ameaçou-me com uma multa. Respondi que a pagaria com gosto, só pelo prazer de chamar-lhe tonto». Irmã Serafina sorri.

O trabalho desenvolvido em prol da Fundação Santa Mónica merece os mais rasgados louvores. Pedro Conesa, colaborador direto, faz um retrato do que tem sido conseguido. «O nosso colégio era apenas para raparigas e só tínhamos equipa de basquete».

«Há 12/13 anos passámos a ser uma instituição mista e os rapazes começaram a pedir uma equipa de futebol. Bem, não foi difícil convencer a nossa presidente. Ela é fanática por futebol e avançámos de imediato com o projeto».

A maior das certezas: o Santa Mónica não vai à Champions

Nas camadas jovens do clube só jogam alunos do colégio. Nos seniores estão antigos pupilos e gente que se identifica com os valores regentes. E que valores são esses?

«O balneário não é um confessionário, há liberdade», apresta-se a dizer Serafina Vilanova. «Ainda assim, exigimos que o desporto seja um veículo para a transmissão de bons valores. Esforço, humildade, respeito na vitória e na derrota», refere a simpática religiosa.

Quem não tem o perfil certo, é convidado a sair, confirma o dirigente Pedro Conesa. «Esta época subimos à Primeira Regional e demitimos o treinador. Não era o que pretendíamos».

A mudança, no plano desportivo, não surtiu os efeitos desejados. O Santa Mónica tem quatro pontos em nove jornadas. É antepenúltimo. A Irmã Serafina relativiza o insucesso.

« Señor, nós temos uma certeza. Uma só: não vamos à Liga dos Campeões. Por isso, preferimos saudar aquilo que de bom fazemos. Nas duas temporadas anteriores vencemos o Troféu Jogo Limpo», sublinha, naturalmente orgulhosa dos seus niños.

« Vaya con Dios, señor».

Imagens da Irmã Serafina: