Não sei se isto acontece em todas as áreas profissionais ou de lazer, mas desconfio que sim. Entre gente que se dedica ao comentário de futebol acontece de certeza: miramo-nos todos uns aos outros pelo canto do olho à espera de um deslize alheio. Não é necessariamente por mal, às vezes é só mesmo para reconfortarmos os nossos próprios enganos na almofada fofa da constatação de que os outros - mesmo os mais conceituados e bem pagos - também se enganam. Inveja? Não diria tanto. Numa base filantrópica, arrisco que talvez seja só a busca da perfeição.

Vem isto a propósito de se ter multiplicado no Facebook, minutos depois da Liga Europa conquistada pelo Atlético Madrid, uma frase alegadamente escrita ou dita pelo Luís Freitas Lobo em 2009. Qualquer coisa como "Falcao é um jogador lento que não vai resolver os problemas do Benfica". Credo, isto não é olhar pelo canto do olho, é esgravatar arquivos!

Não sei se o Luís Freitas Lobo é o comentador de jornal, rádio e TV que mais percebe de futebol em Portugal. Aliás, em última análise tenho dificuldades em perceber o que é perceber muito de futebol. É ter os vencedores da Taça do Rei de Espanha todos decorados, numa gaveta da memória ao lado daquela de onde sacamos à primeira os onzes do Benfica e do Sporting da década de 70? Conhecer a história das táticas e contratáticas? Saber o nome de imensos jogadores do campeonato brasileiro e internacionais sub-21 do Japão?

Na verdade não sei bem. O que sei é que o Luís Freitas Lobo devora jogos e livros de futebol como poucas pessoas no mundo farão, vê mais jogos de futebol num fim de semana do que eu sou capaz de ver num mês e, acima de tudo, conquistou os seus (agora vários) espaços de opinião à custa desse suor e dessa paixão.

Sei mais: sei que é dos poucos comentadores de futebol que, sem ter sido atleta de eleição, é respeitado por um considerável número de treinadores no ativo. E isso, perdoem-me, quer dizer alguma coisa. Também deve querer dizer alguma coisa o facto de, após ter começado em A Bola, ter sido contratado pelo Expresso, pela TSF, pela RTP e depois pela Sport TV para ocupar espaços nobres de análise ao jogo. Não terá sido por acaso que por mais de uma vez esteve em conversações com clubes de futebol profissionais para integrar uma estrutura diretiva.

Não lê sempre o jogo da melhor maneira, com certeza. Não analisa na perfeição uma equipa da Letónia que na semana seguinte vai jogar com o Braga, acredito. Não adivinha, naturalmente, o futuro de cada jogador que vê atuar na TV ou no estádio. Agora apontem-me, por favor, um treinador que leia sempre o jogo da melhor forma, um observador que faça sempre o relatório perfeito do próximo adversário ou o diretor desportivo que acerte sempre nas contratações. Nem Mourinho, que é um pouco de tudo isto, faz de todos os seus jogadores um sucesso.

Basicamente, a coisa resume-se a gostar ou não de ler e ouvir o homem. Entre leitores, ouvintes e telespectadores há com certeza muito quem aprecie e muito quem diga mal. Aposto que há mais quem aprecie, porque os tempos não estão para jornais, rádios e televisões andarem a pagar colunistas só porque sim.

Não sou amigo pessoal do Luís. Conhecemo-nos, trabalhámos de forma algo próxima e tenho um profundo respeito pelo percurso dele, só isso. Chateia-me solenemente que se perca tempo a rebuscar palavras ditas há três anos para a partir daí se apregoar a alegada incompetência de alguém. Como se todos soubéssemos a que sabem os melões antes de os abrir e provar.

*Editor TVI

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