Data de nascimento: 05/07/76 (Amarante) 
Altura: 1,80. Peso: 76 kg 
Clubes como profissional: Boavista (94/97); Benfica (97/00) 
Internacionalizações A: 18 (4 golos) 
Estreia na Selecção A: 24/01/96 (França, 3-Portugal, 2)  

A transferência para a Fiorentina, por uma verba ímpar na história do futebol português (4 milhões de contos) marca a oficialização do estatuto de Nuno Gomes como ponta-de-lança de elite a nível europeu. Um estatuto adquirido, essencialmente, graças ao notável Campeonato da Europa recentemente realizado pelo jogador português. Até aí, a vocação goleadora do homem com a camisola 21, era apenas uma realidade bem conhecida dos adeptos portugueses... e pouco mais.

Se a afirmação de novos talentos nunca foi muito fácil no campeonato nacional, a tarefa torna-se de extrema dificuldade quando o jogador em causa é um avançado puro e duro, daqueles que não se esquivam à luta corpo a corpo na grande área e não dispõem de grandes oportunidades para fazer ver à plateia invulgares dotes técnicos na condução de bola a meio-campo. Por isso, mais assinalável se torna o aparecimento de um caso chamado Nuno Gomes, único jogador português da actualidade que, até à madrugada de domingo, ocupava o lugar simultaneamente ingrato e gratificante de ponta-de-lança numa das equipas de «top» do nosso campeonato.  
 
A sua entrada em cena, com apenas 17 anos, está muito ligada a Manuel José. Foi ele quem o projectou no Boavista, encerrando o seu processo de formação com um conselho lapidar: «Segundos avançados, para jogar nas costas do ponta-de-lança, há de sobra em Portugal. O que falta são homens capazes de trabalhar na área. O teu futuro deve passar por aí».  
 
Nada que o próprio Nuno não tivesse adivinhado, ele que escolhera como ídolo Fernando Gomes, um dos últimos e mais eficazes representantes dessa espécie tão rara no futebol português. A fixação era tal que não hesitou em construir uma identidade futebolística própria, substituindo o apelido real, Ribeiro, pelo do «bibota de ouro» sempre que pisava um relvado. E não era apenas o corte de cabelo ou a morfologia a acentuar semelhanças com o antigo «capitão» dos «dragões»: na movimentação em campo, no faro de golo, havia claras semelhanças com o melhor ponta-de-lança português dos últimos 20 anos.  
 
Mas Nuno Gomes não era apenas uma réplica. As suas movimentações amplas, a disponibilidade para percorrer grandes espaços, começavam a desenhar características próprias, acentuadas pela forma de jogar do Boavista e das Selecções jovens, onde cedo ganhou lugar de destaque e construiu currículo assinalável.  
 
Ao fim de três anos sempre a crescer (na qualidade de jogo e no número de golos obtidos), a saída para um «grande» tornou-se inevitável. Aos 21 anos (curiosamente, o número que adoptou para as suas camisolas) o Benfica tornou-se a etapa seguinte, novamente com Manuel José aos comandos.  
 
Finalmente, um goleador para a Selecção! 
 
O êxito de um ponta-de-lança mede-se, em primeiro lugar, pelo número de golos que consegue. É um critério simplista, às vezes injusto, mas incontornável. Nuno chegou ao Benfica com a obrigação de marcar. Ao fim de três épocas, 60 golos em 101 jogos para o Campeonato obrigam a reconhecer que estamos em presença de um caso de sucesso, apenas ofuscado pelo fenómeno-Jardel e pelos insucessos desportivos vividos pelos «encarnados».  
 
Mais maduro, mais inteligente nas movimentações, Nuno Gomes tardou em impor essas qualidades na Selecção - onde, por contraste, o seu parceiro preferencial de ataque no Benfica, João Pinto, aparecia muito mais à-vontade.  
 
Nas primeiras 13 internacionalizações, esmagadoramente na situação de suplente, Nuno jamais encontrou oportunidade para encerrar o assunto. Compreendia-se a sua impaciência, quando chegou à Holanda, em vésperas do Euro-2000, admitindo ansiar por um golo libertador que lhe reforçasse a confiança. À partida para o Europeu, Nuno Gomes parecia ter perdido algum terreno para Sá Pinto na corrida para a titularidade. Mas a lesão do jogador da Real Sociedad potenciou uma «explosão» simplesmente notável. Promovido à titularidade, Nuno rompeu a barreira logo no primeiro jogo, diante da Inglaterra, embalando para uma veia goleador confirmada por mais três tentos (dois diante da Turquia, um frente à França, em jogo de má memória).

Como prémio, apesar da mão severa da UEFA que o baniu dos palcos internacionais durante oito meses, Nuno Gomes apareceu na lista oficial dos 16 melhores jogadores da prova, ao lado de nomes tão ilustres como Kluivert, Raúl e Henry. E, claro, tornou-se um dos nomes mais apetecidos no mercado de transferências.

Agora, o futuro sorri-lhe mais do que nunca: tendo agora apenas 24 anos, dificilmente deixará de ser uma figura de referência no Europeu de 2004. E, para Itália, parte com uma missão com tanto de difícil, como de aliciante: substituir o adorado Batistuta nas preferências dos exigentes adeptos «viola». Com números, como convém aos pontas-de-lança. E com a inestimável ajuda de Rui Costa...

Nuno Madureira