Alenitchev

A imprevisibilidade de tudo quanto nascia no trocar de pés sedutoramente gingão, no serpenteado violento, que parecia explodir na sequência ilógica de uma pausa, terá sido a pequena, mas mais pesada, porção de imponderáveis que escapou à congeminação estratégica de Denoueix. O Nantes teria encaixado na perfeição no adversário, e transmitia até a sensação de o ter atado de pés e mãos, mas um pequeno pormenor, de perna arqueada, semeou desequilíbrios em falsas ameaças, que inteligentemente servia como engodo, escapou à marcação de três opositores no exíguo espaço de uma cabina telefónica e sugeriu o passe num flanco, a meio de um gesto matreiro, para o trocar, no último instante, por uma abertura no lado inverso. Soube sempre distinguir o instante para o passe ou o momento para o drible, embora gerando, por vezes, a ideia de que podia tirar toda uma equipa da frente do seu caminho. 

Paredes

Chegou a ser invulgarmente permeável, parecendo, inclusive, perdido, vacilando na indecisão e sugestionado pelos instantes de aflição, de que, na verdade, era o primeiro responsável, por defender excessivamente perto dos centrais. No regresso do balneário levou consigo a subtil leveza da consistência, que já lhe serve de sinónimo, com que passou a aniquilar o contra-ataque francês, condenado então ao mero esboço, e a assumir-se como ponto de partida do ataque portista. 

Deco

Serpenteando e encantando menos do que Alenitchev, levava na ponta das botas a liberdade do russo, paga ao preço de um estilo diferente, mais largo e um nadinha mais linear, ainda que igualmente requintado e delicioso. Com dois criadores pela frente, o Nantes não soube mais quem vigiar, afogueando no vai-e-vem, perdendo o equilíbrio táctico enquanto perseguia Alenitchev para deixar escapar Deco e correndo atrás de Deco para ver Alenitchev fugir. O resto foi deixado ao critério e à inspiração do brasileiro e do russo, que bem poderiam ter produzido vantagem mais ampla. 

Esquerdinha

A forma calma e lenta com que tirou as medidas à bola, ao guarda-redes e à baliza, espreitando pelo canto do olho, enquanto tomava um embalo de desprezo, não chegaram para disfarçar a «overdose» de nervosismo que o acompanharam nos dois segundos que antecederam o empate. Na verdade, não era caso para menos. Naqueles dois passos que antecederam o pontapé, Esquerdinha carregava consigo o rótulo de noctívago, as imagens da dupla tentativa falhada por Alenitchev e a responsabilidade de desferir o primeiro remate da reviravolta. Escolheu o lado, o mesmo que Landreau também quis, mas não falhou. Daí a nada beijava o emblema voltado para a bancada, procurando a redenção, que o restante da exibição garantiria em recuperações felinas e acelerações que o transformavam, momentaneamente, num avançado. 

Carriére

O cérebro francês, que soube e pôde magicar enquanto Paredes permitiu a ousadia de confundir a defesa antes de rasgar os melhores movimentos de contra-ataque. Um pouco melhor do que Deco, mesmo porque o brasileiro só esteve metade do tempo em cena, mas aquém da magia exclusiva de Alenitchev, com a agravante de não ter gerado a mesma amplitude de espaços do que o russo, mesmo gozando dq liberdade que o portista nunca conheceu. 

Olembe

O mais recente pesadelo de Secretário, que terá ficado a dever uns Pai-Nossos e umas quantas Avé-Marias ao Divino pela inspiração do camaronês se ter esgotado ao cabo de um punhado de ziguezagues, ainda assim capaz de o deixar aturdido ao ponto de arriscar o remate, já perto do fim, que valeria ao F.C. Porto o descanso relativo de levar a Nantes uma vantagem mais ou menos confortável.