No «day-after» de uma conquista histórica, o Maisfutebol falou com uma das figuras de maior destaque do Boavista campeão: Martelinho. O extremo axadrezado esteve em alguns dos momentos cruciais do êxito boavisteiro. Marcou o golo que deu a vitória sobre o F.C. Porto, triunfoque marcou a ascensão do Boavista a uma liderança que não mais largou; apontou também o tento que permitiu ao Boavista vencer o Sporting, afastando os leões da corrida pelo título. 

Homem simples, de raízes humildes, Martelinho não se deixa afectar com o sucesso. O Maisfutebol falou com ele em Lourosa, sua terra natal. É lá que, nas folgas, o jogador gosta de estar. Perto da família, perto dos amigos. Um dia depois da festa, já com alguma distância que permite a reflexão, Martelinho analisou de forma serena o percurso que levou o Boavista à história. Saiba todas as opiniões do extremo boavisteiro, em entrevista concedida ao Maisfutebol. 
 

-- Quando é que começaram a acreditar que era possível ganhar o campeonato?

-- A partir do momento em que vencemos o Porto, começámos a acreditar que era possível.  

-- Desde aí, achavam que era possível manter a liderança até ao fim?

-- Sabíamos que havia muito bons candidatos ao título, equipas que só numa ou duas contratações gastaram mais dinheiro do que todo o orçamento do Boavista junto, mas provámos que isso não é tudo. Acho que ninguém pode dizer que o campeão não é justo. Demonstrámos que somos uma equipa humilde e que os nomes não ganham jogos.  

-- Os jogos em casa com o F.C. Porto e o Sporting foram os dois momentos cruciais?

-- Toda a gente sabe que foram vitórias importantes. Em termos de confiança foram cruciais para nos impormos sobre os nossos adversários. Com o Porto, marcou a viragem na classificação, foi a partir daí que passámos para a frente e não mais largámos a liderança; com o Sporting, afastámo-los da luta pelo título...  

-- E nesses dois jogos, os golos foram marcados por si...

-- Foram dois golos fundamentais. Foram momentos de felicidade, mas também de fé. Julgo que nos jogos importantes consigo transcender-me e em regra faço grandes exibições. 

-- Qual dos dois soube melhor?

-- Quando marquei o golo ao Porto, considerei-o o melhor golo que alguma vez tinha apontado. Mas o do Sporting soube melhor, porque foi em cima da hora e sabíamos que se empatássemos ali, o Porto aproximar-se-ia e em princípio as coisas decidiam-se nas Antas. 

-- Descreva lá esse momento, então...

-- Vi o César Prates aproximar-se e consegui evitá-lo. Rematei logo, de forma decidida. Foi golo! A maneira como todos festejámos, senti naquele momento que o título ia ser nosso. 
 

Uma resistência heróica 
 

-- Sentiu que era possível ganhar todos os jogos até à última jornada?

-- Tínhamos uma série muito difícil de jogos. Entre nós, sabíamos que era difícil vencer todos os jogos até ao encontro nas Antas, mas isso só foi possível por via de um grande esforço da nossa parte. A partir de uma certa altura, ficou claro que a luta pelo título se cingia a Boavista, Porto e Sporting, mas penso que depois de vitórias tão importantes como as que tivemos, falámos entre todos e concluímos que não podia ser agora, no final, que iríamos morrer já quase a chegar à praia. 

-- Qual foi o jogo em que mais receou tropeçar?

-- Especulou-se muito sobre a pressão que o Boavista poderia acusar. Provámos, jogo a jogo, que aguentámos bem essa pressão e não chegámos a ter qualquer escorregadela. Dizia-se que iríamos tropeçar em Paços, em Guimarães, em Alverca, com o Sporting, em Paranhos... A verdade é que ganhámos esses jogos todos. As pessoas diziam isso e nós ganhávamos cada vez mais força. O campeonato chegou a uma certa altura em que era muito difícil tirarem o Boavista do primeiro lugar. Conseguir aguentar tudo isto foi tarefa de heróis. 
 

A vitória da humildade 
 

-- A vitória do pequeno sobre os gigantes...

-- Sabemos que os outros têm orçamentos maiores do que nós, mas em campo não pensamos nisso. As vitórias são ganhas dentro das quatro linhas. É quem mais trabalha que ganha os jogos. 

-- No início desta época, dizia-se que o Boavista tinha um plantel menos talentoso, devido à saída do Timofte. Acabou por não ser bem assim.

-- Bom, é verdade que na época passada dependíamos muito do talento do Timofte. Por vezes, é mau ficar tão dependentes de um só jogador. Esta época o colectivo funcionou melhor. Se não jogasse eu, o Duda, o Sanchez, o Litos, outro qualquer, a equipa rendia na mesma. Saíam titulares e continuavam a vencer. 

-- Em 33 jogos, só por duas vezes o Boavista perdeu. E curiosamente com a mesma equipa, o Braga. O que é que o Braga fez que os grandes não fizeram?

-- O Braga, no Bessa, mereceu ganhar. Foi feliz, mas aceita-se a sua vitória. Mas, francamente, em Braga, foi muito injusta a nossa derrota. O empate já era mau para nós e acabámos por perder. Mas enfim, o Braga fez uma grande época, é uma equipa um pouco à nossa imagem, com alas rápidos, muito forte no meio-campo, que pressiona bem... Talvez tenham tido connosco a estrelinha que nós tivemos com outras equipas. Recordo que em Braga tivemos uma bola no poste minutos antes de termos sofrido o golo que nos impôs a derrota. 
 

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