Quando Roy Essandoh contactou, por e-mail, o técnico do Wycombe Wanderers, Lawrie Sanchez, respondendo a um apelo do técnico para avançados disponíveis no teletexto da ITV, suplicando-lhe por uma oportunidade na equipa, estava longe de imaginar que, menos uma semana depois, estava destinado a conhecer fama mundial, escrevendo mais uma página de ouro no centenário historial da Taça de Inglaterra. 

Futebolista de percurso anónimo, nas divisões secundárias da Escócia e num obscuro clube finlandês, Essandoh, avançado de 25 anos, obteve de Lawrie Sanchez (ele próprio um histórico vencedor da Taça, em 1988, pelo modesto Wimbledon, frente ao todo-poderoso Liverpool) o acordo para um período experimental de duas semanas. O tempo suficiente para mostrar um mínimo de qualidades e, de um momento para o outro, ser convocado para o jogo dos quartos-de-final, frente ao Leicester, respeitável equipa da Premier League, claríssimo favorito ao apuramento, até pelo facto de jogar em casa. 

Sanchez recorda: «Essandoh foi o único a responder ao nosso apelo, por isso decidi dar-lhe uma oportunidade durante quinze dias. A verdade é que o seu desempenho não foi brilhante nos treinos, mas nós estávamos tão desesperados que tive de o chamar de imediato», salienta o técnico, aludindo aos seis lesionados no já de si débil plantel do Wycombe. 

Essandoh assistiu do banco ao primeiro choque da tarde, quando Paul McCarthy deu vantagem aos visitantes, no início da segunda parte. Simples acaso, pensou-se, tanto mais que Izzet igualou para o Leicester pouco depois (67 m). Oito minutos depois, Sanchez teve a inspiração de lançar o novato em campo, numa altura em que a sua equipa carregava com a inconsciência dos iluminados. A doze minutos do fim, um corte com a mão na área do Leicester não foi sancionado pelo árbitro do encontro, que na sequência dos protestos ordenou a Sanchez que saísse do banco. 

Mas a justiça viria ao cair do pano, com uma cabeçada decisiva de Essandoh, o tal que ainda mal conhecia os nomes dos seus colegas de equipa, em período de descontos. Estava consumada assim uma vitória épica, daquelas de que o futebol inglês parece deter o segredo, abrilhantada ainda pelo facto de o Wycombe ter jogado em Flibert Street sem... seis dos habituais titulares. 

Este modesto clube, que vegeta num discretíssimo 16º lugar da Second Division (o equivalente à nossa II B), nunca tinha passado da terceira ronda na Taça e só de há 7 anos a esta parte começou a participar nas provas oficiais da Liga. Se é verdade que cada vez há menos contos de fadas, não o é menos que a Taça de Inglaterra constitui uma das derradeiras reservas naturais para o direito ao sonho no futebol...