A ginasta romena Andreea Raducan só amanhã vai saber se recupera a medalha de ouro individual em ginástica artística que lhe foi retirada pelo Comité Olímpico Internacional (COI) depois de ter acusado uma substância proibida no controlo anti-doping. 

A atleta apresentou um recurso ao Tribunal de Arbitragem para o Desporto e já foi ouvida pelos júri durante cerca de um quarto de hora. Raducan espera, agora, pela decisão, que será anunciada amanhã, quinta-feira.  

Acompanhada pelas duas colegas romenas que conquistaram a medalha de prata e de bronze nestas olímpiadas, Simona Amanar e Maria Olaru, Raducan não prestou declarações à saída da audiência e agradeceu aos cerca de 60 jornalistas presentes. 

Para os romenos esta foi uma sanção demasiado dura para a ginasta, visto esta apenas ter tomado dois comprimidos (Nurofen) para curar uma constipação. É que segundo a jovem atleta de 16 anos (completa 17 no próximo sábado), estava com febre e o médico da equipa prescreveu-lhe os ditos comprimidos compostos por uma das substâncias proibidas pelo COI, a efedrina, que é um estimulante. 

O médico da equipa já reconheceu o erro, mas foi expulso dos Jogos Olímpicos de Sydney e suspenso dos Jogos de Inverno 2002 em Salt Lake City, bem como dos de Atenas, em 2004. Os romenos atribuem a responsabilidade ao médico, embora admitam que este não agiu com má intenção. 

Segundo a televisão romena, as ginastas romenas, que agora subiram um lugar no pódio com a desqualificação de Raducan, ameaçam devolver as suas medalhas se a decisão do Tribunal não lhes for favorável.

Ontem, ainda antes do apelo da ginasta, François Carrard, director-geral do COI, defendeu a posição do comité: «Doping é a presença de uma substância proibida no corpo e não há lugar para simpatias». Mas admitiu que o caso de Raducan não é semelhante aos outros, visto a ginasta ter tomado um medicamento comum que em nada melhora a sua prestação. 

Para Jacques Rogge, vice-presidente da comissão médica do COI, a ginasta foi penalizada por algo que não fez intencionalmente. «Esta é uma das experiências mais difíceis que tive na minha vida olímpica», afirmou. 

Contudo, a posição de Dick Pound, vice-presidente do COI e presidente da Agência Mundial de Controlo Anti-Doping é bem diferente: «Não se pode deixar a competição com uma medalha de ouro quando o teste deu positivo. Qualquer que seja a causa, a competição foi afectada». 

O caso de Raducan provocou fortes reacções na opinião pública romena. Um grupo de 400 estudantes maifestaram-se ontem na cidade de Craiova, apelando para que devolvam a medalha de ouro à ginasta. 

Também a famosa ginasta romena Nadia Comaneci, a quem Raducan é comparada, já comentou o caso. «Estamos todos muito tristes, mas nem consigo imaginar como ela se pode estar a sentir». Para Comaneci, actualmente treinadora nos EUA, Raducan «foi uma vítima de um erro médico».