O tormento de Nuno Gomes deu ontem o último suspiro na forma do toque irritante de um faxe cujo conteúdo lhe seria lido horas depois. Vai voltar à selecção, disseram-lhe num sotaque italiano que nunca lhe parecera tão doce. O funcionário da Fiorentina, portador da boa nova, segurava a pré-convocatória, onde se podia ler também o nome de Rui Costa. 

Nuno não se deu ao trabalho de esconder a alegria e o alívio despoletados pela notícia, mas também não podia confessar-se realmente surpreso. A suspensão de sete meses, resultado de uma reacção intempestiva à eliminação diante da França, terminara em Janeiro e há muito que fazia as contas ao regresso. «Felizmente, já lá vai», suspirou ao telefone. Não tinha mais que roer as unhas na frente da televisão, o que o deixava sossegar, finalmente. «Fartei-me de sofrer a cada vez que a selecção jogava». Não tinha mais que passar por novo suplício, julgava, embora o bom senso o advertisse que talvez fosse melhor aguardar pela convocatória definitiva de 22 deste mês e torcer para que António Oliveira não mude de ideias. 

O entusiasmo percebe-se agora, escapando em ténues ondas de sons por entre os furos do auscultador. «Vou voltar a fazer aquilo que mais prazer me dá, vou voltar a vestir a camisola da selecção». A excitação dominá-lo-ia apenas por mais uns segundos, antes de lembrar que não deveria dar o retorno por garantido. «Estava ansioso por regressar». Interrompeu-se, subitamente, e entendeu não se alongar enquanto um outro documento, com origem nos serviços da Federação Portuguesa de Futebol emergir no faxe do Estádio Artemio Franchi. 

A insistência arrancar-lhe-ia a intenção de «reiniciar a caminhada para a titularidade», crendo não a ter perdido para Pauleta no longo jejum imposto por uma suspensão da UEFA. «Não vejo a questão dessa maneira», argumentou. Na verdade, Nuno nunca se considerara titular. «O que se passa é que estou sempre pronto para jogar e o seleccionador sabe-o. Toda a gente sabe». Quando muito, a questão será delicada apenas para o treinador, porque o avançado da Fiorentina está seguro de que «o ataque ficará sempre bem servido», independentemente da escolha de Oliveira. 

Nuno acabaria por confessar. «Gostava de ser titular» no regresso. Do castigo já lhe basta o sofrimento de ter assistido, de mãos e pés atados, a todos os jogos da selecção portuguesa desde que, no final de uma tarde de Verão, não foi capaz de conter a revolta provocada pela eliminação com a França por adversário, a mesma que indiscretamente descarregaria sobre o árbitro Gunter Benko. Espera ter aprendido a lição, crendo-se agora capaz de «não reagir da mesma forma» em situações semelhantes. Só falta aguardar pelo dia 22. Se Nuno Gomes defrontar Andorra, no Funchal, a ausência expira justamente oito meses depois do último jogo em que vestiu a camisola da selecção: a 28 de Junho, já depois de ter batido Barthez, num remate forte e surpreendente com o pé esquerdo.