O treinador do Gil Vicente, Ricardo Soares, após o empate (1-1) no Estádio do Dragão com o FC Porto:

«[Não abdicou da forma de jogar] O jogo não começou bem para nós, houve uma abordagem do Vitor, a bola fugiu para a frente. É vermelho, nada a dizer. O Manuel Mota esteve ao nível do jogo, com uma excelente arbitragem. Não queríamos abdicar da nossa personalidade, do nosso processo de jogo. O FC Porto via aqui uma possibilidade de aumentar uma vantagem, este é o melhor FC Porto dos últimos cinco anos. É uma equipa muito comprometida à imagem do que o Sérgio era como jogador. Mas nós temos uma primeira fase muito forte, sabíamos que, com menos um, o resultado seria certamente a derrota. Os meus jogadores fizeram um trabalho extraordinário, com muita capacidade para deixar o FC Porto desconfortável. O empate é justo.

[Quinto lugar] Não olho para essa situação. É importante ter a consciência do jogo extremamente difícil, mas era nossa ambição pontuar cá. Viemos aqui deixar a mossa marca, o futebol positivo, sem medo, olhos nos olhos seja com quem for. Era um grande desafio fazer isso contra o FC Porto. Penso que onze para onze seria um grande espetáculo de futebol. Não vínhamos cá com autocarros, vínhamos disputar o jogo. Os meus jogadores têm feito coisas extraordinárias a nível da beleza do jogo. Trazer pontos era o objetivo. Em 24 jogos aqui, o Gil Vicente tinha zero pontos, mas agora os meus jogadores ficaram na história.

[Olha para o quarto lugar?] É verdade que os factos são esses. Estamos numa posição privilegiada, mas não me preocupo com isso. Não é questão de pressão, o meu foco são duas coisas: melhorar os jogadores e a equipa. Tiveram um crescimento impensável, mas eles têm talento. Sabia que se eles melhorassem a minha equipa ia dar um salto qualitativo.

[Perspetivava esta época na pré-temporada?] Não vou ser hipócrita, nunca pensei. Quando começou a época e quando fomos para estágio - e posso confidenciar isso porque o devemos aos adeptos e aproveito para enaltecer o apoio que nos deram, é um orgulho fazer parte do crescimento do Gil - achava que íamos ter dificuldades na Liga, mas ao fim de três semanas, vi a capacidade e foco dos jogadores, predispostos a melhorar o rendimento individual, tivemos muitas conversas. Se calhar nos anos anteriores não colocaram a qualidade em prática. Modificámos muito a equipa, contratámos 18 jogadores e era uma incógnita, mas nunca pensei que a equipa apresentasse uma qualidade de jogo como esta. É continuar a trabalhar, que isto muda muito de repente. Temos mais margem para crescer e espero que a partir deste jogo possam dar o devido valor a esta equipa, é da mais elementar justiça. Brutais os meus jogadores com o que fizeram aqui.

Não sinto que possamos colocar pressão, o nosso foco é jogo a jogo e fazer o melhor possível. O presidente pode falar o que entender, temos um grande respeito, é um presidente fantástico e temos uma estrutura incrível. Percebo essa pergunta, mas continuo a achar que o nosso foco é o jogo com o Estoril sexta-feira.

[O que pensou aquando da expulsão?] O Vítor é uma peça elementar, quase tudo passa por ele na construção e organização defensiva, para sermos agressivos. Quando é expulso, pensei no que podia acontecer, mandei logo dois jogadores aquecer. Tinha que fechar com três, descobrir um bocado o corredor, até porque o Lino já estava preparado para uma linha de cinco e não podia mexer nele. Coloquei o Bueno a aquecer, porque nunca poderia defender os 90 minutos, mais cedo ou mais tarde ia sofrer. Iria ter de discutir o jogo, está no sangue. Pensei fechar a zona interior e tirar o Fran Navarro para meter um médio. Sabia que eles podiam resolver pela sua capacidade individual. Esperei para ver por precaução.  Comecei a sentir que a equipa estava confortável, o FC Porto perdia a bola por dentro e fomos extremamente organizados, a linha defensiva foi sujeita a bolas por dentro, por fora, tabelas e sabíamos que tínhamos de pôr o FC porto desconfortável porque teve um jogo com desgaste energético muito grande. Senti esse conforto e não senti necessidade de mexer, apenas no final, porque o FC Porto deu um amasso na parte final. Aí tive de mudar para 5-4.

[Que adjetivo usa para descrever o Gil?] É um orgulho muito grande fazer parte deste grupo. Não tenho palavras para descrever estes rapazes. Eles podem fazer uma carreira diferente. Mas eles também me obrigam a trabalhar mais. Estou com uma felicidade não por empatar, mas por ver os meus jogadores a não abdicar desta forma de jogar.

[O que disse aos jogadores após a expulsão?] Preparei a equipa para jogar onze contra onze. Preparámos os jogadores para perceberem de tática. Quanto mais perceberem do jogo mais boas respostas vão dar. Tirando o cansaço que podia existir, o FC Porto tinha tudo a seu favor. O desafio era saber isso mas conviver com naturalidade com a força do FC Porto, não sair do nosso registo. O segredo passou por respeitar muito o FC Porto. Só com o Sporting esta equipa não conseguiu apresentar qualidade de jogo, no resto dos jogos deixámos a marca Gil Vicente bem vincada.