O Mundial dos golos estranhos trouxe mais um exemplar que ajuda a legitimar a noção: logo no primeiro minuto da segunda parte, Van Persie cruza da esquerda, o centro nem leva grande perigo, mas Simon Poulsen perde a noção do espaço, vira as costas, permite que a bola lhe bata e entre no poste mais distante.

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Do nada, como já tinham feito os Estados Unidos e Eslovénia, a Holanda chegou à vantagem num momento raro. A partir daí, a equipa justificou a vitória. Tranquilizou-se, cresceu e colocou a Dinamarca no lugar. A selecção de Marten Olsen praticamente não voltou a colocar a baliza holandesa em risco.

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Antes disso, porém, é bom recordar que o triunfo da quarta melhor selecção do ranking chegou a parecer em risco. A Holanda entrou ao ataque e teve sempre mais bola, mas encontrou dificuldades em criar situações de golo. Sem Robben, que provavelmente ainda não está a cem por cento, faltou capacidade de romper.

Kuyt, Van Persie e Van der Vaart, apoiados por Sneijder, bem tentavam, sobretudo o segundo, o que mais arriscou no um contra um, mas o futebol saía sempre algo lento e mastigado. Faltava velocidade, faltava chama, faltava um pingo de alma de Mundial, que é difícil perceber com o insuportável som das vuvuzelas.

Sneijder: «A primeira vitória é a mais importante»

A Dinamarca, por outro lado, pelo menos na primeira parte, teve velocidade. Conseguiu chegar-se duas vezes perto da baliza holandesa e das duas vezes criou perigo: Brendtner e Kahlenberg ficaram muito perto do golo. Não conseguiram desfazer o nulo, e talvez tenha sido mais justo assim. Não mereciam outro resultado.

Vinte jogos sem perder fazem um candidato?

O tal golo estranho logo do início da segunda parte mudou tudo. Morten Olsen mexeu na equipa, mas a Dinamarca não estava preparada para atacar: só defender e contra-atacar. Por isso ressentiu-se da responsabilidade recebida e nunca mais afastou o espectro da derrota.

A Holanda respondeu com ocasiões de golo e acabou por garantir o triunfo num golo natural de Dirk Kuyt, quando encostou para a baliza um remate de Elia. O extremo do Hamburgo (23 anos) entrou para desfazer a defesa dinamarquesa e chamar a atenção do futebol: é bom, este Mundial precisa de ser agitado.

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No fim, portanto, fica a imagem de uma Holanda em crescimento, que soma vinte jogos sem perder. Fica também uma vitória justa e fica a ideia que os holandeses têm tudo para ganhar grupo, que até pode cruzar com Portugal nos quartos. Mas ainda é preciso mais qualquer coisa para criar um candidato claro ao título.