A «Armadilha». Vale e Azevedo, por intermédio da sua esposa, apresentou esta quarta-feira o seu livro. Editado pela «Letras Gordas», o testemunho do ex-presidente do Benfica, que se encontra detido há quase ano e meio no EPPJ de Lisboa, depois de seis meses de prisão domiciliária, incide sobre vários temas: a forma como se candidatou à presidência do clube da Luz, os contratos assinados com Rui Costa e Fernando Couto, as alegadas dificuldades na constituição da SAD e, claro, os casos Ovchinnikov e Euroárea são passagens obrigatórias.
O advogado recorre sempre à ideia da armadilha. Lembra que, ao longo da História portuguesa, vários monarcas foram atraiçoados e assume que foi isso que lhe aconteceu em várias situações, a partir do momento em que tomou posse como presidente do Benfica. Fala das dificuldades causadas por ter sido um «não-alinhado», das movimentações do que chama de «sistema», o poder vigente no futebol, garante que Graeme Souness teria sido campeão no Benfica, mas não se fica por aqui.

As denúncias mais surpreendentes surgem a meio do livro. Vale afirma que lhe foi oferecido o suborno de jogadores. «Em vários momentos da época 1998/99, em especial quando o campeonato estava ao rubro, fui contactado por homens do futebol e pelo menos, uma vez, por um conhecido agente FIFA que me propuseram comprar jogadores-chave da equipa adversária. O valor proposto variava entre os 2500 e os 5000 contos. Os jogadores-chave, para este efeito, eram guarda-redes (os mais caros), defesas-centrais ou trincos. A ¿compra¿ visava a facilitação da vitória no respectivo desafio em que ele pertencia à equipa adversária. Essa facilitação passava por: ¿frangos¿; penalties escusados ou infantis¿; erros de posição nos fora-de-jogo permitindo que o adversário ficasse isolado ou em posição; deixar fugir o adversário no ¿contra-um¿; criar um buraco no meio-campo facilitando o contra-ataque; provocar livres perigosos; passar a bola ao guarda-redes de forma a permitir a intercepção do avançado para que este marcasse o golo; entre outros ¿truques¿.»
Os árbitros também são focados no livro. Custavam, diz, entre 1000 e 2000 contos. Ou então, bons presentes chegavam - «viagens, material Hi-fi, televisores e electrodomésticos». Nos dois casos, Vale reclama que nunca aceitou tais coisas.
O departamento de prospecção do Benfica também foi das coisas que mais o preocupou durante a presidência, alega. Fala num caso em que um olheiro era cego, para explicar o insucesso das camadas jovens antes da reestruturação de que foi alvo. Revela ainda que um alegado emissário de Muamar Kadhaffi lhe propôs a entrada do líbio no capital do Benfica. Uma das exigências era a de que o estádio se passasse a chamar Estádio da Luz Muamar Kadhaffi. Recusou.
No final do livro, chega a sua versão sobre os casos Ovchinnikov e Euroárea. Reclama inocência. Dá exemplo. Alega irregularidades nas investigações. E conta com todos os pormenores o dia da sua detenção.
Acima de tudo, um testemunho.