O treinador português Abel Ferreira foi direto, sincero e bem-disposto ao antever o Mundial 2022, defendendo que quer descansar e desligar do futebol por uns tempos, depois de mais de dois anos de grande intensidade ao serviço do Palmeiras.

«Vou ser muito sincero, eles agora que se danem, que decidam, os treinadores, o Tite, o Fernando Santos... Eles agora que se virem. O meu negócio… Ainda falta um [ndr: jogo]. Depois de sair daqui, fecho o futebol. Eu vivo muito intensamente o futebol, mas vou desligar a ficha, completamente. Que ganhe o melhor, que se lasquem, que se danem. A minha parte está feita. Meter o zero, parar o carro, arrefecer e voltar com as energias carregadas. Aqui é muito intenso. Convidaram-me para ser comentador, mas quero estar quieto, de calções, bermuda, andar descalço, comer com a mão, beber o que me apetecer, ninguém me chatear. Ser como sou, normal, feliz com a minha família. O futebol é para desligar completamente», referiu, na conferência de imprensa após a vitória sobre o América Mineiro, da 37.ª e penúltima jornada do Brasileirão, prova conquistada pelo «Verdão».

Um pouco antes, o técnico tinha respondido a uma questão sobre os treinadores portugueses que vão estar no Mundial, para falar do técnico português na globalidade. Além de Fernando Santos (Portugal), Paulo Bento (Coreia do Sul) e Carlos Queiroz (Irão) vão estar na prova.

«O Mourinho tem livros, o Carvalhal tem livros, o Villas-Boas tem livros, todos aprendemos e partilhamos uns com os outros, depois cada um que faça o que quiser. Eu costumo dizer que o treinador português vai ao shopping do futebol. Depois cada um faz o fato à sua medida. Nós vamos ao shopping, cada um abre a sua loja, a maneira como pensa o futebol, depois cada um chega e tira o que quer. Temos essa facilidade de partilhar. Mas a competência não tem nacionalidade, tem trabalho, dedicação, vitórias, derrotas, não é da nacionalidade», começou por dizer, antes de vincar que há bons treinadores, seja em que país for

«Quero que isso fique bem claro, há excelentes treinadores brasileiros, portugueses, ingleses… Vi Telê Santana, disse isso antes de chegar, Klopp, Mourinho, Wenger, há muito conhecimento à disposição. Bobby Robson, um senhor, uma forma de ser e estar incrível no futebol, talvez eu seja um bocadinho parecido com ele com os meus atletas, mas ele tinha uma postura um bocadinho diferente da minha. Eu também não sou esse esquentado – sou às vezes, não é sempre – mas sabem que aqui, vós, por um erro… Foi um e a gente julga por todos. Não sou nenhum santo, não estou na igreja, gosto e vivo o futebol, preciso só de tranquilidade. Cabeça e coração, é só equilibrar. O que me deixa mais contente é ver esta equipa e este clube, em duas épocas e meia, a ganhar títulos. O difícil não é chegar, o difícil é manter-se de forma consistente», afirmou.

Depois do jogo de domingo, com o Internacional, o plantel do Palmeiras vai apresentar-se apenas a 2 de janeiro novamente. «Vamos ter 45 dias. Nós, como todos, merecemos descansar e estamos há quase dois anos sem descansar. O futebol aqui é intenso, muito difícil. Chegar aqui e fazer carreira é duro», apontou, ainda.