Claudio Echeverri terminou em lágrimas a meia-final do Mundial sub-17 que a Argentina perdeu nos penaltis para a Alemanha, mas depois também disse que não tem dúvidas de que o futebol dará desforra a uma geração promissora, iluminada pelo seu talento. O Diablito confirmou na Indonésia que é um dos grandes nomes para o futuro, alimentando de caminho as comparações com Messi.

Esse é um peso de que o jovem médio ofensivo não precisa, mas a comparação é inevitável quando ele faz, com o número 10 nas costas e usando a braçadeira de capitão, o que fez frente ao Brasil nos quartos de final do Mundial. Um hat-trick que terminou com este golo. Tirado a papel químico de outro que Messi apontou num… hat-trick ao Brasil.

Foi a primeira vez desde esse particular em 2012, uma vitória da Argentina por 4-3, que um jogador argentino marcou três golos ao Brasil. E Claudio Echeverri foi o primeiro a fazê-lo num jogo oficial.

Já conviveu de perto com Messi e com a seleção principal. Em março, foi chamado por Lionel Scaloni para participar num treino com os campeões do mundo. E no fim ouviu elogios de Di María. «Esteve bastante intenso, estivemos a vê-lo. Tem muito para dar», disse o extremo do Benfica.

«Se a minha mãe não vier, volto para Chaco»

Está lançado o miúdo que nasceu em 2006 em Resistencia, na província de Chaco, e que já aos 11 anos tinha rótulo de craque. Ainda antes, na verdade, quando seduziu à primeira vista os olheiros do River que o foram observar no seu clube de infância, o Deportivo Luján. Hincha do River, Claudio só pôs uma condição.

«Estávamos em frente do Monumental e o Echeverri disse-me: ‘Sou adepto do River e amo isto, mas se a minha mãe não vier para cá, volto para Chaco’», contou Daniel Brizuela, o olheiro que o descobriu, à TyC Sports. «Disse-lhe que íamos fazer todos os possíveis para que isso acontecesse, mas era difícil instalar um miúdo de nove anos num apartamento, com a família.»

Mas os Millonarios não deixaram fugir a oportunidade e, com a intervenção do presidente e do então treinador Marcelo Gallardo, conseguiram juntar mesmo em Buenos Aires os pais e o irmão mais novo de Echeverri.

Quatro golos à Juventus aos 11 anos

Claudio começou rapidamente a justificar as expectativas e aos 11 anos teve o seu primeiro momento de fama, quando brilhou em Itália, num torneio internacional em que marcou quatro golos num jogo à Juventus – o Venice Champions Trophy, onde esteve também o Benfica, finalista vencido frente ao Atlético Madrid.

É dessa altura esta entrevista em que o Diablito Echeverri, alcunha inspirada no boliviano Etcheverry, a quem chamavam Diablo, revela que o seu ídolo é Messi, pois claro, e responde tímido quando lhe perguntam se joga como ele. «Alguma coisa…»

As coisas «em que se parece com Messi»

Há coisas de Messi em Echeverri e estão lá desde cedo, como recorda Pablo Fernández, que o orientou ainda nos iniciados do River e mais tarde nas reservas dos Millonarios. «Tem muita inteligência para entender o futebol, o jogo», disse o técnico ao Infobae: «Essa é uma das coisas em que se parece com Messi. Está sempre à procura da posição. Se contares quantas vezes por minuto analisa o terreno de jogo para ver a localização da bola, dos rivais e dos companheiros, vais-te surpreender. Sempre que a recebe está sozinho. Isso é um mérito muito grande, somado à habilidade.»

As comparações de estilo e talento, da leitura de jogo às fintas e aos passes decisivos, não se resumem a Messi e quem o acompanha desde cedo encontra também semelhanças em referências do River, como Ariel Ortega, o próprio Marcelo Gallardo ou Pablo Aimar, que aliás também o treinou na seleção sub-17. Para o menino Echeverri, há outra referência - ele cresceu a ver e a admirar Juan Quintero, ex-jogador do FC Porto e ídolo dos Millonarios.

O Diablito é também uma combinação rara de talento e maturidade precoce. «Uma chave é a personalidade dele. É muito humilde, trabalhador. É um miúdo muito educado», diz Pablo Fernández, dando como exemplo também a resistência mental que revelou quando sofreu no ano passado uma fratura numa vértebra lombar que o afastou vários meses dos relvados: «Teve uma lesão grave e nunca o vimos em baixo, nem fica muito eufórico quando se lhe diz que é um fenómeno. É muito focado.»

Do hat-trick ao Brasil às lágrimas com a Alemanha

Há muito que Echeverri não é segredo. Está no radar de muitos dos grandes da Europa e o River procurou blindá-lo em janeiro deste ano. No dia em que cumpriu 17 anos assinou o primeiro contrato profissional e ficou com uma cláusula de rescisão de 25 milhões de euros. O clube procura agora prolongar o vínculo, válido até final de 2024.

Em abril deste ano, Claudio brilhou no torneio sul-americano de sub-17 e selou a caminhada da Argentina até ao segundo lugar com cinco golos. O Mundial da Indonésia foi o palco que se seguiu e Echeverri liderou a caminhada da Argentina, culminando com o seu momento para a história no jogo grande dos quartos de final, frente a um Brasil também recheado de talento, o campeão sul-americano em título. Com esse hat-trick, passou a somar cinco golos no Mundial.

Na meia-final com a Alemanha, ainda encontrou alma para empurrar a decisão para os penáltis. Já nos descontos, foi dele o passe para Agustín Roberto completar um hat-trick – outro produto da formação do River, o ponta de lança é outra promessa confirmada na Indonésia, com oito golos marcados na Indonésia.

Echeverri não conseguiu converter o seu penálti, o guarda-redes Heide adivinhou o lado do remate. É a Alemanha que discutirá o título com a França, à Argentina resta o jogo pelo terceiro lugar frente ao Mali, no sábado. No relvado, Echeverri não segurou as lágrimas. Depois, deixou uma mensagem de capitão nas redes sociais.

Entre a afirmação no River e a cobiça dos tubarões

Agora volta ao River Plate, ele que foi lançado em junho na equipa principal, mas conta apenas quatro aparições pelos Millonarios, sempre a sair do banco e com poucos minutos em campo. É grande a pressão dos adeptos sobre Martin Demichelis, o sucessor de Gallardo no banco, para que tenha mais tempo de jogo.

O treinador diz que ele precisou de tempo de adaptação. «Quando cheguei ao River sabia que Echeverri era o diamante em bruto a potenciar. Gostamos dele, gosta muito do clube e vamos desfrutar dele», afirma Demichelis: «Ninguém discute o talento técnico que tem o Claudio e a inteligência para resolver em diferentes circunstâncias. Mas custou-lhe muito ao início do ponto de vista físico. Com a convivência com os líderes que temos no balneário e o treino intenso, posso assegurar que melhorou muito no aspeto físico e técnico.»

Com a atual temporada prestes a terminar, é na próxima época que se focam já as expectativas em relação a Echeverri. Resta saber por quanto tempo o River conseguirá manter a sua joia.