O futebolista luso-guineense Lassana Camará, mais conhecido por Saná, mostrou-se, esta terça-feira, crítico quanto à carga da polícia sobre a população na Guiné-Bissau, relacionada com a tentativa de colocar a mesma em confinamento social, para evitar a propagação do novo coronavírus.

«Porquê humilhar, porquê bater numa mulher que está a vender algo na rua para tirar o sustento familiar, sob o pretexto de lutar contra o vírus?», questionou o antigo vice-campeão do mundo sub-20 por Portugal, não compreendendo a posição das autoridades em encerrar igrejas e mesquitas, mantendo abertos locais como o Ministério das Finanças. «Só porque lá faz dinheiro», atirou, à Lusa.

De férias em Bissau, após a paragem na Roménia, onde está a jogar no Gloria Buzau, Saná afirmou não ter aceitado a ordem da polícia, que acusa de estar a humilhar a população, sob a alegação de a prevenir do contágio pela covid-19. Entende, ainda, que as autoridades do país «querem é matar o povo à fome» e disse ter sido vítima de agressão da polícia, no domingo, à margem de uma visita ao Hospital Nacional Simão Mendes, onde visitara um familiar doente.

Saná disse ainda ter visto a polícia a roubar motorizadas às pessoas que estavam a sair do hospital, após terem levado comida aos familiares doentes. «Dizem que estão a caçar o vírus, mas será que a polícia vê o vírus?», alertou, ainda.

«Respeitamos o Estado, porque é recomendação religiosa, mas também não podemos permitir que a polícia bata nas nossas mães nas suas varandas», avisou também o jogador formado no Benfica e que, em Portugal, jogou também no Sp. Braga B, Académico de Viseu, Leixões e Olhanense.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos já condenou o comportamento das forças de segurança, considerando que o estado de emergência não é «carta-branca» para violência contra os cidadãos.

O Secretário de Estado da Ordem Pública já tinha pedido desculpa pelo comportamento das autoridades policiais, após várias denúncias de abusos no fim-de-semana, em Bissau e outras cidades do país.

De acordo com os dados divulgados pelas autoridades sanitárias na segunda-feira, o número de pessoas infetadas com a covid-19 na Guiné-Bissau passou de 18 para 33.