Em agosto de 2019, Angus Macdonald, central do Hull City, estava a voltar aos treinos depois de recuperar de um ombro deslocado e de uma trombose venosa profunda numa perna, tudo ocorrido em poucos meses. Mas o regresso ao trabalho foi atrapalhado por uma inflamação no intestino.

Poucos dias depois de ter feito exames, o médico disse-lhe que tinha de o ver com urgência. Angus Macdonald sabia que «algo não estava bem», mas não estava preparado para o diagnóstico assustador.

«Desliguei completamente. O meu corpo ficou totalmente dormente e não me lembro de nada depois de ter ouvido a palavra cancro», conta o jogador de 27 anos em entrevista à BBC.

«Foi um verdadeiro choque. Tinha 26 anos, a chegar ao auge da minha carreira. Nunca esperas que isto te aconteça a ti, especialmente quando és tão jovem, em boa forma e saudável», recorda.

«Não me lembro como conduzi de volta para casa. Era como um sonho, e não dos bons. Era um pesadelo», acrescenta.

«Eu perguntava a mim próprio: porquê eu?», conta o jogador, que teve de ser submetido a uma cirurgia de sete horas e meia para retirar o intestino e colocar um saco de colostomia.

«Eu não queria estar perto de nada que tivesse a ver com futebol, por isso, mudei-me para sul, para estar perto da minha família. Isso aproximou-nos e foi algo que eu não tive durante muitos anos por causa do futebol», aponta.

Numa nova cirurgia, implantou um novo intestino e perto do Natal chegou a notícia de que estava curado. «Houve alturas em que eu não tinha a certeza de que iria sobreviver. Saber que estava curado… Não precisava de festa de Natal, de presentes… peguei no cão e fui dar uma volta a pensar no que tinha ultrapassado.»

Em janeiro, o defesa voltou aos treinos. «Senti-me um amador. Não sabia correr, as minhas pernas pareciam gelatina e parecia que nunca tinha visto uma bola de futebol na vida», explica, mas garante: «Foi uma das melhores sensações e nem me importei de tropeçar ou de a bola ressaltar no meu pé. Tinha passado tanta coisa má e estava entusiasmado».

A 6 de março, Angus Macdonald voltou a jogar 60 minutos, num jogo dos sub-23. «Nem sabia o que fazer. Onde pôr o saco, onde estavam as minhas caneleiras… O tempo de jogo passou a correr. Podia ter jogado 90 minutos, mas senti o esforço nas pernas no dia seguinte», recorda o jogador, que aproveita agora a paragem para voltar à forma.