Se não esteve particularmente atento ao futebol internacional durante o fim de semana que passou, deixamos-lhe aqui alguns dos protagonistas - deixando deliberadamente de fora, para não nos tornarmos repetitivos, os golos decisivos de Higuaín que vão mantendo equilibrada a luta no topo da série A - ou a eficácia goleadora do Barcelona que, mesmo poupando Suarez e falhando um penálti pelo caminho, tratou o Getafe com chapa 6 em 60 minutos e depois descansou.

Gianluigi Buffon

Buffon há muito que deixou de ser um guarda-redes para se transformar numa instituição. E quando se tem 38 anos, um armário de troféus mais recheado do que o da maior parte dos clubes e uma lista de recordes que faria inveja às velocistas da RDA na década de 70, para onde se avança? Para o recorde seguinte, está bom de ver. Com a vitória de sexta-feira sobre o Sassuolo (1-0) a Juvents somou a décima jornada consecutiva sem golos sofridos, permitindo ao histórico Gigi superar a marca de 903 minutos de invencibilidade de outro mito da baliza Juventina e da seleção italiana, Dino Zoff.

Já recordista da vecchia signora, Buffon tem agora de aguentar mais quatro minutos no dérbi do próximo domingo, com o Torino, para destronar o recordista absoluto, Sebastiano Rossi, do Milan, que esteve 929 minutos sem sofrer golos no campeonato, em 1993/94. E, por entre flores desta dimensão, a Juventus lá vai prosseguindo a inacreditável recuperação que, muito provavelmente, a deixará com o pentacampeonato ao alcance da mão. E pensar que à décima jornada a Juve estava a 11 pontos do primeiro lugar…

Romelu Lukaku

A passagem discreta de Romelu Lukaku pelo Chelsea –15 jogos e zero golos, entre 2011 e 2013 – continua a condicionar a sua perceção por parte do público. Apesar das épocas brilhantes que cumpriu no WBA e no Everton e de disputar ombro a ombro com Vardy, Kane e Aguero o título de melhor marcador da Premier League, o colosso belga (1,91 m e 90 kg) ainda não é visto como um jogador de elite. Mas golos como o deste sábado

podem mudar finalmente esse estado de coisas. tanto mais que – e por vezes é fácil esquecê-lo – estamos a falar de um jogador que ainda não completou 23 anos. Protagonista absoluto, com um bis, na vitória do Everton sobre o Chelsea (2-0), Lukaku não se limitou a acertar contas com o grande que um dia lhe virou as costas: pôs a sua equipa nas meias-finais da Taça, última hipótese de salvar a temporada toffee e deixou os adeptos do Chelsea com um nó na garganta, na comparação entre o seu desempenho e o de Diego Costa.

Thiago Alcântara

Só mesmo os problemas físicos e as ausências por lesão podem atenuar a evidência de que Thiago Alcântara é um dos melhores médios do futebol europeu. O hispano-brasileiro brilhou a grande altura neste sábado, na goleada (5-0) ao Werder Bremen que recolocou a equipa de Guardiola nos trilhos da vitória e da conquista do título, após (escândalo!) dois jogos seguidos sem ganhar. A puxar os cordelinhos do jogo, com a cumplicidade de Xabi Alonso, e a inventar espaços para outros brilharem, o filho de Mazinho quebrou também um enguiço de dois anos sem marcar na Bundesliga (o último golo datava de 23 de fevereiro de 2014) e logo em dose dupla. Mas, aqui, justifica-se uma referência ao jovem francês Kingsley Coman, autor de três assistências, duas delas em benefício de Thiago. No ano de despedida de Guardiola, o seu «protegido» desde os tempos do Barcelona parece querer embalar para um fim época apoteótico. Com a Champions na mira?

Ibrahimovic

Seis vezes campeão italiano no terreno – embora dois títulos tenham sido perdidos na secretaria. Duas vezes campeão holandês. Uma vez campeão espanhol. E, a partir deste domingo, quatro vezes campeão francês em quatro épocas no PSG. Se se derem ao trabalho de fazer as contas, são treze títulos no bolso de Zlatan Ibrahimovic, talvez o maior jogador de todos os tempos a nunca ter ganho uma Liga dos Campeões ou uma prova de seleções. E, já se sabe, quase tão grande como o seu palmarés (e aqui não se fazem piadas sobre narizes, não vá o diabo tecê-las) é o seu ego – que não lhe permitiria deixar de assinalar o título mais madrugador da história da Liga francesa ao seu estilo: depois de sentenciar a eliminatória com o Chelsea, a meio da semana, um poker nos 9-0 ao Troyes, a elevar para 27 o seu total de golos nesta edição da Liga – mais do dobro do que o segundo melhor marcador - e a fazê-lo superar a barreira dos 100 golos na competição. Já soma 102 e, se estiver para aí virado, ainda tem mais oito jornadas para continuar a mostrar que, no contexto da Liga francesa, é um jogador de outra galáxia. E quanto à tal questão da Liga dos Campeões e das seleções, esperemos para ver.

Harry Kane

He is Harry

he is Harry

super Harry

from the Lane

he is Harry

super Harry

he is Harry

Harry Kane.

O cântico dos adeptos do Tottenham, adaptando a melodia de «Sailing», popularizada por Rod Stewart, não é propriamente variado. Mas, vendo bem, não há razão para isso, já que o trajeto do goleador dos spurs também não prima pela variedade: são golos decisivos atrás de golos decisivos, mantendo a equipa de Pochettino bem na luta pelo título. O rótulo de fenómeno de uma época só que os céticos lhe colaram apressadamente no verão passado, já está há muito tempo ultrapassado. O bis ao Aston Villa, neste domingo, manteve os spurs a apenas dois pontos do Leicester, que só entra em campo nesta segunda-feira e permitiu-lhe alcançar Vardy no comando da lista dos marcadores. Obrigado a usar uma mascara protetora durante um mês, depois de ter partido o nariz a 21 de fevereiro, Kane está cada vez mais parecido com um super-herói. Pelo menos para os adeptos do clube do Norte de Londres que, lembre-se, não ganha um campeonato há 55 anos.

Quique Flores

Recordado em Portugal graças à passagem discreta pelo Benfica, antecedendo a era de Jorge Jesus, valha a verdade que o técnico espanhol tem feito por colecionar outros marcos no seu percurso. A conquista da Liga Europa pelo Atlético de Madrid em 2010 é, obviamente, o mais notável, mas a carreira digna que vem fazendo na época de estreia no futebol inglês também lhe assenta bem no currículo. Especialmente depois deste domingo em que, com a permanência já garantida, o seu Watford foi ao Emirates impor uma derrota (2-1) ao Arsenal que não só vale a ida às meias-finais da Taça como deixa os gunners mergulhados em plena crise, com apenas uma vitória nos últimos sete jogos. As próximas viagens a Barcelona e a Liverpool não ajudam e legitimam a especulação: será que o fim da era Wenger começou a ser desenhado por uma equipa de Quique Flores?