José Mourinho foi o mais recente convidado do "The Obi One Podcast", de John Obi Mikel, antigo internacional nigeriano que foi treinado pelo português no Chelsea. Bem ao seu estilo mais recente, o técnico da Roma mostrou uma faceta animada e descontraída, tendo passado em revista vários momentos da carreira.

Mourinho recordou as duas passagens por Stamford Bridge e destacou a primeira, entre 2004 e 2007.

«Porque é que a equipa era especial? Acima de tudo, o dinheiro de [Roman] Abramovich. Sempre que falamos das melhores equipas, falamos também de dinheiro. O que o Manchester City e Liverpool são agora, o Chelsea era e ainda é, embora não sejam tão bons como nós éramos. Tínhamos tudo do melhor: bom treinador, bons jogadores e podíamos escolher jogadores com base no caráter ou personalidade», começou por dizer.

O treinador português recusou-se a eleger essa equipa dos londrinos como a melhor que treinou durante a carreira, até porque não teve «a sorte suficiente para ganhar a Liga dos Campeões».

O "special one" destacou a força do balneário, que partilhava «os mesmos princípios» do treinador português. «Digo aos meus rapazes que, se agora fosse exatamente como era nesse balneário, os meus jogadores não jogariam. Nessa altura, lembro-me de intervalos em que destruí tudo. Até a mesa de massagens às vezes voava pelo ar. E sabia que aqueles animais iam para a segunda parte para matar tudo e todos. Só podes fazer isso com um certo tipo de personalidade. Há jogadores que, se lhes fizeres o mesmo, não querem a bola na segunda parte. Nessa equipa, os jogadores com mais experiência tinham esse perfil e os miúdos que estavam a aparecer queriam crescer e ser assim. Não era um bom rapaz ao intervalo. Em Stamford Bridge, se não estivéssemos a vencer por dois golos ao intervalo, eu ia ficar zangado.»

As saídas de Kevin De Bruyne e Mo Salah do Chelsea

Mourinho explicou ainda os motivos para Mo Salah e Kevin De Bruyne não terem triunfado em Londres, tendo garantido que não mandou os craques de Liverpool e Manchester City embora.

«Foram embora porque não quiseram esperar. A história prova que a opção deles foi boa, porque fizeram a carreira que fizeram. Quando me dizem que eu deixei o Salah ir embora, eu digo o oposto: “Eu trouxe o Salah, fui eu que o quis contratar”. Ele ia do Basileia para o Liverpool e entrei numa guerra para ele vir para o Chelsea. Para seres jogador do Chelsea tens de render ou esperar. Ele não queria esperar, ele queria ser emprestado e o Chelsea, em certo momento, decidiu vendê-lo. Eu disse: “Deixem-no ser emprestado se ele sentir que tem de jogar cada minuto de cada jogo”», lembrou.

«Com o Kevin foi semelhante. Fomos para a pré-temporada na Ásia. Fomos para a Indonésia, Tailândia, e o Kevin seria emprestado a um clube alemão. Eu disse ao clube: “Não, não quero que ele seja emprestado, quero-o comigo". Ele ficou comigo e começou a Premier League como titular. Depois disso, jogámos a Supertaça Europeia em Praga contra o Bayern e ele não disputou esse jogo. No dia seguinte, quis ir embora. Jogámos o segundo jogo da Premier League contra o Manchester United, em Old Trafford. Ele ficou no banco e jogou alguns minutos, mas não foi suficiente e quis sair», prosseguiu.

«Quando estás no Chelsea e queres sair, vais e vem outro. Eles eram apenas miúdos que não podiam esperar e as suas carreiras dizem que eles estavam certos, mas isso não dependia de mim. Provavelmente os outros vão dizer que eu os empurrei para fora, mas não», concluiu.

O técnico português recordou ainda a saída polémica do Tottenham, em 2021. «A saída mais ridícula foi num clube [Tottenham] que tinha uma sala de troféus vazia e despediu-me dois dias antes da final. É aquela que não cheira bem.»

As críticas ao Manchester United

Quanto ao Manchester United, José Mourinho reconheceu que «não era um clube fácil» quando por lá passou.

«Não tenho arrependimentos porque dei tudo e fiz o máximo que podia. Amo o clube e os adeptos. É preciso respeitar a história do Manchester United e apreciar. Dei tudo o que podia. O segundo lugar [em 2017/18] ainda é o melhor depois da geração de Alex Ferguson, a Liga Europa [em 2016/2017] ainda é a maior conquista da última década», disse.

«Naquele clube ainda há pessoas – alguns jogadores, mas não só – que após dois meses eu dizia: “Com estas pessoas, nunca vão conseguir ir a lado algum”. E ainda lá estão», frisou.

«Os adeptos sabem que dei tudo. Uma vez fui a Old Trafford com a Sky Sports e estava nas bancadas. O estádio virou-se todo para mim e começaram a aplaudir-me e a cantar para mim. Se isso acontecesse no estádio do Inter, do Real Madrid, do FC Porto ou Chelsea, as pessoas diriam “ok, é por tudo o que conquistaram”. Mas quando olhamos para um clube com a história do Manchester United e os adeptos fazem isso a um treinador que ganhou só uma Liga Europa, uma Taça [da Liga Inglesa, em 2016/17] e ficou no segundo lugar do campeonato... Chegas à conclusão que eles sabem que dei tudo. Não tenho arrependimentos», vincou ainda.

Mourinho escolhe os favoritos a vencer a Premier League

Ao contrário de outros tempos, Mourinho admitiu que já deixou para trás as rivalidades com outros treinadores, mas enviou uma “farpa” a Arsène Wenger.

«Adorei todas [as rivalidades]. E a boa coisa é que, mais cedo ou mais tarde, crias uma boa relação com eles. Tudo passa com o tempo. As rivalidades tornam-te melhor, até como pessoa. Tens de processar toda a informação. Acho que a única coisa que o Arsène não se pode esquecer é que no seu jogo mil, um jogo para recordar e celebrar, Chelsea-Arsenal, 6-0.»

Questionado sobre os favoritos a vencer a Premier League, Mourinho atribuiu 51% de hipóteses ao Manchester City e 49% ao Liverpool, deixando o Arsenal de fora da corrida. «Arsenal? Gostava que eles ganhassem. O Chelsea não vai ganhar, o Manchester United também não, por isso vai ser entre esses três e ficaria feliz se fosse o Arsenal. Mas digo 51% e 49%, porque, quando o calendário aperta, Manchester City e Liverpool são as melhores equipas.»

Por fim, o treinador português confessou estar «feliz» em Roma, mas lembrou que termina contrato no final da época.

«Nestas situações, é uma decisão do clube e treinador. Tens de te sentar e discutir isso ou então não. Foco-me no presente, em dar tudo e aproveitar ao máximo. É um clube muito bom, com boas pessoas e um grupo de jogadores que não são os melhores do mundo, mas são boas pessoas e muito bons jogadores. Os adeptos são espetaculares, a cidade é imponente, incrível. Estou muito feliz aqui», finalizou.