O êxodo para a Europa de refugiados da guerra na Síria é um drama em curso cujas reações ainda não conseguem responder da melhor forma à dimensão desta situação de crise humanitária. Mas entre as respostas que já vai havendo, umas delas têm sido dadas pelo futebol resultando em finais (na medida do possível) felizes.

Duas dessas respostas tiveram eco esta quarta-feira. Uma foi dada em Espanha; outra na Alemanha. A espanhola envolve um adulto que se tornou um dos refugiados sírios mais conhecidos ao ser agredido por uma repórter de imagem na Hungria. A alemã envolve crianças a quem foi dada oportunidade de jogar futebol.

O drama dos migrantes é medido em centenas de milhares de pessoas (maioritariamente originárias de África) que conseguiram chegar à Europa na esperança de melhores condições de vida. Entre eles estão muitos sírios, fugidos da guerra que destrói o país desde 2011. Neste momento, a União Europeia não chega a acordo sobre o acolhimento pelos seus membros de 160 refugiados sírios.

Aqueles são os que estão identificados com pedido de asilo na Hungria, Itália e Grécia – o total de refugiados sírios na Europa é já muito maior. Em relação àqueles 160 mil, só 40 mil já têm um destino decidido. A União Europeia ainda não acordou que países receberão, e em que quantidades, as outras 120 mil pessoas – Portugal dispôs-se a receber 1.500 dos 40 mil e, agora, um total de 3 mil refugiados.

Treinador «descoberto»

A Hungria é o país onde o drama humanitário está a atingir o ponto mais crítico [como pode ler em pormenor no «TVI24»] enquanto é um dos pontos de passagem para os países no norte europeu mais procurados pelos sírios, como a Alemanha ou a Áustria. Era para a Alemanha que Osama Abdul Mohsen também queria ir. Mas, se calhar, já não vai. Porque esta é uma das histórias com final feliz anunciado nesta quarta-feira.

Quando uma repórter de imagem húngara começou a agredir refugiados em imagens que foram vistas em todo o mundo, Osama saiu do anonimato dos refugiados, pois ele foi o pai que carregava o filho nos braços quando foi rasteirado por Petra Laszlo estatelando-se com a criança no chão.



Osama já estava refugiado na Turquia, onde ainda ficaram a mulher e dois filhos. Com 52 anos decidiu vir para a Europa onde já estava o seu filho Mohammad, com 18. Osama deixou a Turquia com Zaid, de 7 anos, e foi ter com Mohammad à Alemanha. Osama já passou por lá, mas acaba por ter como destino Espanha.

A história é contada pelo jornal «El Mundo», que acompanhou de perto a vida desta família síria, que Osama continua a querer juntar com os filhos e a mulher ainda na Turquia, mas cujo final feliz ficou marcado para Espanha. E pelo futebol espanhol. Osama Abdul Mohsen foi jogador de futebol e foi treinador do Al-Fotuwa na primeira liga da Síria. O Centro de Nacional de Formação de Treinadores (CENAFE) de Espanha convidou Osama para ser acolhido pela escola de técnicos em Getafe (Madrid).



Este foi um dos casos de hoje do futebol a ajudar os refugiados da guerra síria. Ao longo das últimas semanas, as ações de solidariedade têm-se multiplicado entre vários agentes do desporto mais popular no mundo. O Bayern Munique esteve na linha da frente dos que reagiram à crise humanitária. O FC Porto também não deixou para depois as iniciativas, que já foram apoiadas pelos pares europeus.

As ofertas de ajuda vão desde o apoio logístico de mais pequenos como o Marítimo ao apoio monetário dos mais poderosos, como o Real Madrid ou o PSG, assim como ajudas mais institucionais ou mediáticas.

Ajudar os «talentos»

O destino europeu mais almejado pelos refugiados sírios é a Alemanha, onde já vai havendo vários campos de acolhimento. Em Dresden, o Dínamo decidiu fazer um treino especial: um treino de «captação de talentos» para crianças sírias (e até para alguns velhos e também de nacionalidade afegã).

Foram cerca de 70 as crianças de idades maioritariamente entre os 8 e os 14 anos que passaram um dia a prestar provas para uma eventual saída para a via sem saída aparente na qual se encontram.
 


Os treinos foram dados pelos treinadores da academia do Dínamo Dresden (como o antigo capitão de equipa Cristian Fiel), mas o técnico principal do clube da 3ª liga alemã não deixou de estar presente para ver duas horas de trabalho que incluiu passes, remates e exercícios de coordenação.

«Dois ou três rapazes rematam muito bem. Eles mostram um grande potencial que nós gostaríamos de aproveitar na nossa comunidade desportiva», afirmou Robert Shepherd, citado pelo «Sächsische Zeitung». Mesmo com muitas respostas ainda para dar a este drama, já há algumas. E também esperança.