O período de Ramadão iniciou-se no sábado e pode afetar os próximos jogos do Campeonato do Mundo de 2014. A coincidência de datas não se verificava desde o Mundial de 1986, levantando naturais interrogações sobre os efeitos do jejum até ao pôr-do-sol.

A resposta poderá surgir nesta segunda-feira, quando entrarem em campo as duas seleções com maior número de jogadores muçulmanos. Destaque natural para a Argélia, que entrará em campo frente à Alemanha.

Após o empate com a Rússia, garantindo o apuramento para os oitavos-de-final do Campeonato do Mundo, os jornalistas questionaram Islam Slimani sobre o tema. Porém, o selecionador Vahid Halilhodzic interveio e não deixou o avançado do Sporting responder.

«Essa pergunta não tem resposta. Nós falamos de desporto, apenas temas relacionados com desporto», frisou Halilhodzic. Na zona mista, nova investida da comunicação social e silêncio do outro lado.



Djelloul Kassoul, imã da mesquita de Al Qods, de Hydra, já veio aliviar os jogadores argelinos da obrigatoriedade de estarem em jejum durante o dia.

«Há um consenso entre os sábios muçulmanos que autoriza os jogadores em viagem e que realizam um grande esforço a não cumprirem o jejum», afirmou o antigo responsável pelas «fatwas» no ministério dos Assuntos Religiosos da Argélia, como citou o «Tous sur l`Algérie».

Ao mesmo site, o médio Nabil Bentaleb reforçou que o cumprimento do jejum «mantém-se uma decisão puramente pessoal».

97 por cento dos argelinos seguem a religião muçulmana. Como tal, haverá maior pressão sobre a Seleção Nacional. Slimani (Sporting), Ghilas (FC Porto), Halliche (Académica) e seus pares vão enfrentar a Alemanha, onde escasseiam os casos e se regista uma minoria muçulmana.

Mezut Ozil e Sami Khedira seguem o Islão mas o médio do Arsenal já divulgou a sua posição.

«Estou a trabalhar e vou continuar a trabalhar. Assim sendo, não cumprirei o Ramadão. Como profissional de futebol, torna-se impossível para mim este ano», frisou Ozil.

O exemplo foi seguido por Bacary Sagna, filho de senegaleses. O internacional francês pronunciou-se na sexta-feira.

«Sei que, como Muçulmano, devo cumprir algumas práticas, mas não as vou fazer. Cada um decide o que quiser e respeito quem o fizer, não é um problema, mas temos de assumir responsabilidades. Temos de ter cuidado com possíveis limitações e evitar lesões porque, a este nível, os erros pagam-se caro.»



A temática continuará a ser discutida na seleção francesa e no país, onde há uma larga maioria cristã. Benzeman, Pogba, Sahko e Sissoko estão entre os 8,55% de muçulmanos.

França e Nigéria entrarão em campo às 13 horas de Brasília, no pico do calor. Do lado africano, registo para um número considerável de muçulmanos. No país há um equilíbrio relativo entre seguidores do Islão (50,4%) e Cristãos (48,2%).

Figura nigeriana cumpriu o Ramadão no Mundial sub-20

Os nigerianos estão divididos e não esquecem o Mundial sub-20 em 2011. Nessa altura, vários jogadores resistiram às pressões para evitar o Ramadão. Após uma fase de grupos irrepreensível e um triunfo sobre a Inglaterra, as jovens Super Eagles caíram perante – eis a coincidência - a França nos quartos-de-final. Os críticos apontaram para o desgaste de algumas unidades, associando-o ao jejum.

Um desses elementos de 2011 era Ahmed Musa, autor de dois golos na tangencial derrota frente à Argentina (2-3), nesta quarta-feira.

Mutiu Adepoju, antigo internacional nigeriano - seguidor do Islão -, garante que a proibição de ingestão de alimentos sólidos ou líquidos não afeta o rendimento dos jogadores.

«Musa é um profissional e saberá tomar conta de si próprio durante o jejum. O seu desempenho não vai ficar afetado. Claro que tudo depende de cada indivíduo, mas quando eu jogava fazia certas coisas – que não vou revelar – para me ajudar durante os jogos. Tenho a certeza que Musa sabe do que eu estou a falar.»

Alguns jogadores optam por colocar água na boca, para se refrescarem, acabando depois por a deitar fora. 



Os nomes belgas e ainda mais na Suíça

Embora a grande expectativa gire em torno das seleções que jogam nesta segunda-feira, haverá outros focos de interesse no dia seguinte, o último relativo aos oitavos-de-final da competição.

Argentina e Estados Unidos enfrentam Suíça e Bélgica, respetivamente. O Ramadão pode afetar alguns internacionais belgas e ainda mais suíços.

Fellaini é o nome em destaque entre os Diabos Vermelhos mas há mais muçulmanos no grupo, como Chadli, Moussa Dembélé e Januzaj, este devido às suas raízes albano-kosovares.

A Suíça enfrenta o mesmo cenário, ou ainda pior, já que tem vários jogadores com ligações à antiga Jugoslávia: desde logo Shaqiri, figura neste Mundial2014, e igualmente Behrami, Seferovic, Dezmaili ou Mehmedi. Senderos, filho de um sérvio, converteu-se ao Islão em 2012.