A história do treinador Jorge Jesus começa no Algarve, em 1990. Duas décadas depois, ele volta à região para disputar o primeiro título para o Benfica. A final da Taça da Liga, entre encarnados e F.C. Porto, será disputada a dois passos de Almancil, última etapa de Jesus/jogador.
Mário Wilson Filho, óbvio descendente do Velho Capitão, relata a história com amargura. Torce pelo Benfica e pelo sucesso do seu treinador, mas não foge ao que diz ser a verdade dos factos: «Houve um golpe de capoeira, mesmo.»
«Sou benfiquista e acho que o Jesus é o melhor técnico português, a seguir ao José Mourinho. Mas é verdade e não há volta a dar. Ele era o jogador fundamental do Almancilense, fazia o meu papel de treinador dentro do campo, e desapareceu para ir treinar o Amora, rival na subida de divisão. Ele subiu, nós não, ficámos na III Divisão. Foi assim», desabafa, ao Maisfutebol.
«Nunca mais falámos»
Jorge Jesus era um jogador talentoso. Sobretudo na vertente táctica. Passou por Olhanense e Farense, terminando a carreira no modesto Almancilense. Motivos naturais para recuperar essa história. Polémica, segundo o antigo companheiro de Jesus.
Mário Wilson Filho foi colega de equipa do Farense e reencontrou Jesus em Almancil. «Chegámos a partilhar casa em Faro. Mais tarde, quando soube que se tinha gorado a possibilidade de ele ir para o estrangeiro, falei ao nosso presidente e o Jesus veio para o Almancilense. Era o meu primeiro ano de treinador e o último dele como jogador. Ou veio a ser, como mais tarde percebeu-se», relata.
«Estávamos em primeiro lugar e o Jesus era capitão de equipa, uma voz de comando num plantel formado por jovens. Certo dia, comunicou ao presidente que ia treinar o Amora, nosso adversário na subida. Nem falou comigo. Isso foi há 20 anos e nunca mais falámos. Fomos jogar ao Amora, perdemos 1-0 e não o cumprimentei. Como disse na altura, foi um golpe de capoeira. O resto guardo para mim. É um excelente treinador, quero o melhor para o meu Benfica e pronto», remata o antigo jogador do Benfica.
Terceiro português a pensar no título
Jorge Jesus recorda o episódio. Diz que foi abordado por dirigentes do Amora, quando nem pensava em ser treinador. «Acho que essa subida foi fundamental para alicerçar a carreira do Jesus», brinca Mário Wilson Filho. Até hoje.
Curiosamente, Jesus ambiciona repetir um feito de Mário Wilson, o pai. Pode ser o terceiro treinador português a vencer o título nacional no Benfica, depois do Velho Capitão e de Toni: «O meu pai foi o primeiro e, através dele, conheci de perto muitos treinadores. Por isso digo com sinceridade: excluindo o Mourinho, Jesus é o melhor técnico português que por aí ainda.»
A conversa termina com um ponto de situação do pai, abalado com o falecimento da esposa em Janeiro de 2010, e recordações de uma carreira mal gerida do Filho. «Estive no Benfica, com Mortimore e o meu pai, mas só aproveitava o que Deus me deu. Tecnicamente, era dos melhores. Infelizmente, levei sempre o futebol como uma brincadeira. Fui treinador, mas depois daquele episódio no Almancilense não mais fui feliz. Agora, temos a Escola de Futebol Mr. Wilson, da família. E torço pelo Benfica», conclui, em tom saudosista.