O Benfica-Anderlecht demonstrou que Jorge Jesus voltou a ter no plantel Javi Garcia. Quer dizer, não exatamente o médio espanhol, mas alguém muito parecido, o sérvio Fejsa, ex-Olympiakos. Nada será como na época passada?

No tempo de Javi Garcia, o espanhol era titular indiscutível e Matic apenas alguém que fazia parte do plantel. Witsel, Aimar e Rodrigo discutiam os lugares que sobravam. Num ano muita coisa mudou e Matic foi considerado o melhor jogador da Liga em 2012/13. Ou seja, ele joga.

As lesões de Salvio, Gaitan, Sulejmani e Ruben Amorim, mais as prestações cinzentas de Ola John, resolveram para já o problema. Enzo Pérez foi devolvido às origens e na ala direita marcou ao Paços de Ferreira e esteve na origem do primeiro golo ao Anderlecht.

Porque o futebol é oportunidade, Fejsa entrou frente ao Paços de Ferreira e deixou boa imagem. Titular com o Anderlecht, foi o melhor em campo.

Estive a rever o jogo para perceber o que fez tão bem o sérvio. Acreditem, foi muita coisa.

Antes golo, recupera uma bola. Depois da festa de Djuricic, outra. Faz falta. Passe curto para Enzo. Mau passe aos 11 minutos. Suarez impede-o de construir, o Anderlecht tentou bloquear ali o Benfica. Oito minutos sem bola permitem que nos concentremos nos movimentos de Fejsa.

Algumas ideias. Parece ter controlo permanente sobre todos os movimentos. Se o adversário tem a bola perto da linha do meio-campo e se movimenta, Fejsa assemelha-se a um radar, varrendo à direita, em frente e à esquerda. É rápido. É sólido. Não foi (ou não teve de ser) tão duro como Javi Garcia gostava de ser. Tem um raio de ação maior. Paremos aqui. Este ponto aparenta ser uma qualidade, mas na realidade pode ser o principal aspeto a corrigir. Muito confiante, por vezes Fejsa saiu a pressionar muito alto, permitindo que se abrisse um espaço demasiado grande entre a linha de meio-campo e a defesa. O Anderlecht não aproveitou nos primeiros 45 minutos. Depois do intervalo o jogo foi diferente e isso acabou por impedir Fejsa de subir.

Voltando aos dados. Comete falta sobre Suarez aos 19 minutos. Diversos passes, todos curtos. Corta nove vezes a bola até ao intervalo. Uma delas em cima do minuto 45 quando recupera desde o meio-campo e cede canto, em esforço.

Ao intervalo o sérvio já era um dos melhores do Benfica. Mas os adeptos só começaram a aplaudir cada ação de Fejsa depois dos 65 minutos. Aliás, os encarnados sofreram muito até esse período. O Anderlecht subiu no terreno e a equipa de Jesus tentou jogar da mesma forma, saindo em velocidade. O jogo partiu-se. Nesse período o antigo jogador do Olympiakos fez sete cortes e seis passes. Sofreu uma falta dura de Mitrovic, aos 69 minutos. Se por vezes aparecia fora de posição era, nesta fase, sobretudo porque estava em apoio dos laterais, algo que faz com naturalidade e eficiência.

Muito tranquilo, Fejsa liderou o Benfica até ao final do jogo, impondo ordem com cortes preciosos, bom posicionamento e passes seguros. Tudo o que Jesus precisava. E foi justamente aplaudido.

É evidente que Fejsa nada tem a ver com Matic ou Enzo Pérez. Defende com maior rigor, um verdadeiro «seis». Não é tosco, os dois passes longos que tentou encontraram destinatário. Não rematou à baliza. Não foi visto nas bolas paradas ofensivas. Nos jogos da Liga dos Campeões e nas partidas mais intensas da Liga dificilmente Jesus prescindirá de um jogador assim. Em casa, para o campeonato, talvez seja necessário um médio mais criativo.

Um jogo é curto, muita coisa pode acontecer. Mas se fosse obrigado a arriscar diria que alguém vai sair no onze tipo de Jesus. O tempo dirá. Para já é certo que o espaço de André Gomes ficou ainda mais reduzido e que mais uma vez Ruben Amorim teve azar. Afinal, foi a lesão do português que obrigou Jesus a estrear o sérvio.

Veja o vídeo de análise a Fejsa.