João Paiva saiu de Portugal há dois meses rumo a uma aventura no Apollon, na primeira liga do Chipre. Na bagagem levou a desilusão de uma subida a sénior mal sucedida. Habituado ao sucesso nas camadas jovens do Sporting, este avançado abandonou Alvalade em litígio com o clube do coração e seguiu para a Madeira (2003/04), onde o Marítimo o fez sonhar com o sucesso. Não somou um único minuto com a camisola dos insulares e em Janeiro deste ano rescindiu contrato.
Ao fim de sete meses sem jogar, surgiu a possibilidade de tentar a sorte na parte oriental do Mediterrâneo e João Paiva não pensou duas vezes. Partiu para a ilha de Chipre e já sabe o significado da palavra triunfar, mas no meio de tantas alegrias o avançado não esquece Carlos Pereira e lança duras críticas ao presidente do Marítimo.
«Ainda não estou a cem por cento, mas estou a trabalhar para atingir a minha forma. Não foi fácil estar sete meses parado. Para um atleta de alta competição é muito difícil, mas tive a sorte de encontrar uma boa equipa, com um bom treinador e um óptimo preparador-físico que fez trabalho extra comigo», diz João Paiva que atribui a Carlos Pereira a responsabilidade de não ter jogado pelo Apollon na primeira jornada da liga cipriota.
«Só não joguei o primeiro jogo porque o senhor presidente do Marítimo não quis enviar o meu certificado internacional. Infelizmente em Portugal temos dirigentes que podem fazer tudo o que querem para tentar destruir a carreira de um jogador, como ele tentou fazer comigo. Num plantel com cerca de 27 jogadores só tem quatro ou cinco jogadores portugueses e por isso os portugueses têm de vir para fora. Os frutos desse trabalho são claros e por isso é que o Marítimo está nos últimos lugares», acusa. «O presidente do Marítimo não quis simplesmente libertar o meu certificado internacional e durante três semanas não atendeu o telefone. Não lhe apetecia dá-lo e tive de apresentar queixa à FIFA que depois contactou a FPF no sentido de ele ser obrigado a libertar o certificado. Com esta atitude dele fez-me perder um jogo.»
João Paiva não poupa mesmo críticas a Carlos Pereira e prossegue: «Pessoas como esta não deviam estar no futebol. Se perguntar a quem já jogou no Marítimo, não a quem lá está porque esses não podem falar, ninguém diz bem do Marítimo. Ele trata os jogadores que estão na Madeira como mercadorias e não como pessoas. Se um jogador não marca golo ou não faz aquilo que ele quer num jogo é tratado abaixo de cão. Quando sai do Sporting achei que estava a proceder bem, mas afinal enganei-me. Arrependo-me de sair do Sporting para ir para um clube que dizia que ia apostar em jogadores portugueses para ter sucesso e depois viu-se o que fez. O F.C. Porto ganhou a Liga dos Campeões com nove portugueses na equipa e isso prova que temos valor.»
O avançado ressalva o orgulho que tem em ser português e não cala a revolta por se ter visto obrigado a emigrar para triunfar: «Não sei quais são os motivos desta politica do Marítimo, mas futebolísticos não são de certeza e prova disso é que estão no fim da tabela. Faz-me confusão como é que ninguém da FPF vê isto. O Marítimo é uma instituição de utilidade pública que recebe dinheiro do Governo Regional que é injectado para a contratação de jogadores de má qualidade. Como português tenho orgulho no Figo, como tive quando aqui no Chipre vi a Ticha Penicheiro sagrar-se campeã da WNBA. Sinto orgulho quando os portugueses triunfam lá fora mas se o Sporting vender o Liedson quem é que terá orgulho do triunfo dele noutro país? Terão os brasileiros e não os portugueses. A culpa é de quem deixa cometer os crimes impunemente. Dá pena ver uma convocatória do Marítimo de 18 jogadores com apenas quatro portugueses: dois emprestados, o guarda-redes suplente que já tem 38 anos e o Briguel que está há 10 anos no clube.»
João Paiva está feliz no Apollon onde também estão Hélio Pinto e Filipe Duarte, mas lamenta não ter tido oportunidade de triunfar em Portugal.