O único português a jogar na Estónia conta ao Maisfutebol a sua aventura no país báltico. E fala sobre o fundo de corrupção no futebol do país. Algo desconhecido pela FIFA, indica.

«Estónia? O que é isso?» Essa foi a primeira reacção de Jorge Rodrigues quando o convidaram para representar o Nõmme Kalju, depois de ter acabado contrato com o Tondela. Mas em vez de ficar a espera sem jogar, disse: «Vamos para Estónia!«. «Foi a melhor coisa que podia ter feito», assegura o defesa de 29 anos.

Esse episódio passou-se no fim do mês de Julho. «Toshi, um amigo japonês com quem joguei no ND Gorica, da Eslóvenia, e que é o melhor jogador do campeonato estónio, perguntou-me se queria fazer testes». Jorge decidiu viajar e assinou depois de ter feito um ligeiro treino. «A direcção do clube confia às cegas no Toshi», assegura.

«Somos felizes porque vamos jogar»

Jorge Rodrigues é o único português a actuar na Meistriliiga, como defesa ou médio defensivo. Chegou e impôs-se logo como titular no clube onde o brasileiro Getúlio Vargas, ex-Portimonense, é o adjunto. Com ele, o Nõmme Kalju sagrou-se vice-campeão, a melhor classificação de sempre do clube. A proeza dá acesso à primeira eliminatória da Liga Europa em Julho de 2012.

Os bons resultados devem-se à qualidade dos jogadores, mas também ao espírito do grupo, que o espantou imenso: «Nunca tinha visto um balneário como este. Antes dos jogos ligamos o rádio e dançamos. Somos felizes porque vamos jogar. E quanto mais relaxados estamos, melhor jogamos.»

O Flora e as raízes em cada clube

Segundo ele, a sua equipa não foi campeã por causa de uma ligação algo estranha. «O presidente do Flora é também presidente da federação. A FIFA não deve ter conhecimento disso», frisa. Lamenta igualmente que o Flora Tallinn tenha vários jogadores emprestados aos outros clubes, o que «facilitou» a tarefa do campeão.

«O Flora disputou os seus dois últimos jogos contra o Viljandi, a equipa sátelite. Só tem jogadores emprestados e ele ameaçou-os, ao dizer que se não deixassem ganhar não haveria mais dinheiro para eles», explica. O Flora ganhou 4-0 e 4-2. «Sentia-se que havia alguma coisa de errada», nota.

Apesar desses constrangimentos, Jorge Rodrigues tem uma boa visão do futebol estónio : «Tudo anda para a frente. Os clubes estão a crescer e vê-se com os resultados da selecção nacional. É um feito inédito, os adeptos andam entusiasmados».

Por pouco cruzava-se com Portugal no Play-off para o Euro 2012. «Gostariam de ter-nos defrontado, por protagonismo. No frio talvez tivessem hipóteses, agora já não queriam tanto ir jogar para Lisboa», brinca.

Viveu com Zezinando na Tailândia

Com o fim da época nesse país, Jorge Rodrigues acabou contrato e ainda não sabe do que o amanhã será feito. «Tenho proposta para ficar. Mas também tenho propostas para a Tailândia», diz. E depois de passagens pelo Vila Real, Sp. Pombal, Operário, Gorica (Eslóvenia), Boavista e Tondela, o factor financeiro é um argumento de peso. Mas relembra: «Temos de jogar onde somos felizes e aqui sou feliz».

Aliás, Jorge já esteve na Tailândia antes de rumar para a Estónia. Dois meses, juntamente com Zezinando. «Vivíamos juntos e agora falamos constantemente», diz. Esteve a experiência no Muang Thong Utd, que foi treinado por Henrique Calisto. «O clube só podia me inscrever em Janeiro. Não ia jogar, só ficar a treinar. Tenho 29 anos, jogo para alguma coisa ou volto a trabalhar ou estudar», frisa quem tirou um curso de comunicação social em Vila Real, de onde é natural.