O que faz um jogador português aceitar o desafio de jogar em Israel? José Eduardo ainda não tem muitas explicações, mas o raciocínio é lógico, por isso até nem é complicado perceber as razões que o levaram a assinar pelo Hapoel Jerusalém, cinco meses depois de ter competido pela última vez.
Após aquele dia 15 de Maio, em que o Pampilhosa perdeu com o Caldas, o guarda-redes percebeu que tinha de dar um novo rumo à sua vida. «Foi um decisão pessoal, porque até à última hora tive oportunidade de assinar pelo Felgueiras ou Desp. Chaves, mas decidi fazer uma pausa. Logicamente que corri um risco muito grande, mas na altura falei com os empresários e decidi fazer uma pausa, que também serviu para reflectir um pouco e entrar em força no futebol», confessou, deixando como certeza que em nenhum momento ponderou abandonar o futebol.
«Sabia que iria encontrar alguma coisa que fosse melhor para mim sem ser em Portugal e como os meus empresários são israelitas, fiz a opção de parar, correr o risco e também para saber o quanto é mau estar parado. Nesse aspecto foi terrível porque acordar sem saber bem o que fazer e arranjar coisas para fazer, para além de treinar, fazer ginásio e correr. O resto do dia era muito vazio», abordou, não se esquecendo do muito tempo que passou a treinar no Ninense, um clube de Famalicão.
Depois de tantos anos passados a competir - «comecei a jogar aos sete anos» - surgiu «um período um bocado chato», mas que nunca serviu para o «martirizar, porque foi uma decisão muito pessoal». Israel acabou por seu um passo natural: «Tinham-me falado na possibilidade de jogar no Alavés [da II Liga espanhola], mas seria como segunda escolha, porque o guarda-redes titular é o Bonano, que jogou no Barcelona e na selecção argentina, por isso não tinha grandes possibilidades».
Ciente do risco que estava a correr, aceitou iniciar uma nova etapa. «Queria ir para um sítio onde pudesse jogar e no Hapoel sabia que isso podia acontecer. É importante jogar num clube que quer subir de divisão, até porque no final destes cinco meses podem surgir outras coisas», referiu, traçando elogios ao futebol local: «Não conhecia, mas é um futebol bastante interessante, competitivo. Mesmo o da segunda liga. Achei que seria bom para mim, até porque já há alguns contactos com clubes de top em Israel».
Jerusalém, desejada por todos
Longe de Portugal, no coração de um conflito que alarma o mundo, José Eduardo já sentiu o que significa viver em Jerusalém. «Estou na cidade que toda a gente quer. Para os católicos é onde Jesus Cristo morreu, para os árabes é a cidade de Mohamed e para os judeus é a cidade de Deus», informou, garantindo que até hoje tem andando na rua «à vontade, até porque as pessoas cumprem o quotidiano normal», mas não deixa de estar atento aos sinais de diferença.
«A maioria dos atentados são nos autocarros e eu vejo-os sempre cheios. Nos outros sítios não há grande hipótese de atentados, porque pelo que já pude conversar com gente de cá, há pessoas infiltradas no meio dos palestinianos e árabes para saberem de antemão onde vão ser os atentados. Depois, em qualquer estabelecimento comercial há sempre um segurança à porta com detector de metais. No caso das senhoras têm de abrir a mala e num parque de estacionamento tem de se abrir a mala do carro e passar no detector de metais. Mas é lógico que pode sempre acontecer qualquer coisa».
Tudo o resto é muito parecido com o estilo europeu, mesmo em Jerusalém, onde já viu cenas caricatas. «Aqui há muitos rabinos a rezar à frente das paredes. No início ri-me um bocado, mas respeito as suas tradições», reconheceu, até porque sabe que está numa cidade especial. Já isitou «o local onde Jesus Cristo morreu» e foi a um jantar da equipa, que ocorreu «numa zona muito movimentada, com restaurantes, bares e turistas». A rotina passa pelos treinos, hotel e um shopping situado em frente ao estádio. Diferente, só duas viagens a Telavive, sempre para ser consultado pelo médico.