Nos últimos meses, José Sócrates recebeu o maior cartão vermelho da história política dos últimos tempos.

Nem o buzinão da Ponte 25 de Abril a Cavaco Silva, em 1994, teve o impacto do país a paralisar, como o que vimos nos últimos dias. Uma imagem que se junta à manifestação dos 200 mil trabalhadores da função pública e à dos cem mil professores que saíram à rua contra a política de Educação. E que foi precedida pelo grito colectivo contra o fecho de maternidades e urgências.

José Sócrates tem motivos para se sentir desconfortável no cargo de primeiro-ministro porque a pressão contra as suas políticas faz-se na rua de forma inédita. Todos somados, os portugueses destas manifestações são muita gente. E ele próprio assumiu no debate parlamentar sobre o (mau) estado da nação que não estava preparado para este embate: «Foi a primeira vez que enfrentei uma situação deste tipo»; «foi um momento difícil».

Pela primeira vez assistimos a greves e paralisações de patrões, como aconteceu com os armadores e os proprietários de empresas de transporte de mercadorias. Pequenos e médios empresários que pagam IRC, PEC, Segurança Social, IVA e que chegam ao final do mês sem dinheiro para custear os aumentos do combustível que não param de subir.

Uma paralisação criticada pela CGTP, o que foi, certamente, um momento inédito na sua história, colocando-se ao lado do Governo nesta crise, contra os camionistas.

Este país está a viver tempos difíceis, e os protagonistas políticos e até os sindicais estão desorientados. E ainda não chegámos ao tempo em que o crude custa 200 dólares o barril (como dizem os especialistas que irá acontecer no final deste ano) e ao consequente aumento da crise alimentar que nos tem mostrado hordas de gente em países asiáticos na fila para o arroz racionado - uma imagem impossível.

Por cá, não fossem as alegrias da selecção portuguesa neste campeonato da Europa e a sardinha assada dos santos populares, que ainda vai havendo, este país estaria deprimido.

Já se adivinha que até às eleições de 2009 José Sócrates andará entre a população a receber vaias, como nas comemorações do 10 de Junho, em Viana do Castelo. Ou a receber sinais de fragmentação interna com as declarações públicas de Manuel Alegre. Ou a receber lições de política de Mário Soares sobre as crescentes desigualdades sociais e pobreza no país. Vêm aí mais momentos difíceis para o Governo.

Já agora, onde anda Manuela Ferreira Leite?