Nunca se falou tanto em Larisa Latynina como nos últimos dias. Poucos conhecem a ginasta da União Soviética que ganhou 18 medalhas olímpicas, muitos nunca sequer viram uma imagem sua em competição, mas é ela a atleta que durante décadas ostentou o recorde mais ambicionado dos Jogos Olímpicos. Até esta terça-feira.

Quando Michael Phelps foi o primeiro a tocar na parede da piscina nas estafetas 4x200m livres, Larisa Latynina estava lá, no Centro Aquático de Londres, a ver o seu recorde cair.

«Vi-o a nadar e vi também o meu recorde a nadar para longe. Ele é muito talentoso, não haja dúvida», comentou à Associated Press.

O nadador norte-americano tem agora 19 medalhas, distribuídas entre três Olimpíadas, e é bem capaz de não ficar por aqui. «Ele fez um grande trabalho. Como atleta, só posso ficar contente ao ver que existe um atleta tão talentoso, que foi capaz de bater aquele recorde», continuou a ginasta, que tem agora 77 anos.

Apesar das 18 medalhas conquistadas entre os Jogos Olímpicos de 1956, 1960 e 1964, Larisa Latynina passou quase despercebida entre a multidão que gritava por Phelps. Uma injustiça cuja culpa se pode atribuir ao tempo em que as televisões ainda eram escassas e a Internet uma miragem inconcebível.

«Esta é a primeira vez que as pessoas de todo o mundo estão a reconhecê-la pelo que fez. As pessoas tendem a esquecer-se das coisas, mas 18 medalhas é muita coisa», declarou Nadia Comaneci, que é por muitos considerada a maior ginasta da história, mesmo tendo arrecadado menos nove medalhas do que Larisa Latynina.

Mas quem é, afinal, esta ginasta que ainda detém um recorde assinalável (é a única mulher que venceu nove medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos)?

Larisa Latynina nasceu em Kherson, agora na Ucrânia, no dia 27 de dezembro de 1934. O pai morreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando tinha apenas nove anos, pelo que a sua mãe teve de suportar vários empregos ao mesmo tempo para conseguir pagar as suas aulas de dança. Sim, dança, porque ela começou no ballet. Aliás, só foi parar à ginástica porque a professora de ballet saiu da cidade e ficou sem outra hipótese.

Ao contrário da tendência atual, Larisa Latynina estreou-se já com 19 anos numa competição internacional. Agora, há ginastas que se retiram aos 18 anos. A diferença é que, naquele tempo, a ginástica celebrava a femininalidade e a maturidade das mulheres e não as acrobacias das adolescentes, conforme explica Nadia Comaneci, que acabou a carreira com apenas 20 anos. «Havia senhoras a competir e os equipamentos eram diferentes. Não quero dizer que era primitivo, mas realmente é o que era», disse.

Larisa Latynina estava grávida de quatro meses da filha Tatyana no campeonato do mundo de 1958 e ganhou a última medalha em Tóquio, em 1964, quando já tinha quase 30 anos. Quarenta e oito anos depois, Michael Phelps ultrapassou-a, mas a ginasta soviética continuará a ser lembrada. Quem o promete é o ministro russo do Desporto, Vitaly Mutko, que disse à agência R-Sport que Larisa Latynina «vai continuar a ser uma das maiores atletas da história».