Nascido da imaginação de Tomás Taveira, tal como o Municipal de Aveiro ou o José Alvalade, o Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa foi um dos projetos esteticamente mais interessantes concebidos para o Euro2004. A cobertura, tipo ferradura ondulante, foi pensada para uma inserção mais harmoniosa na paisagem da cidade, permitindo a vista para o castelo.

Passados oito anos sobre a inauguração, o recinto só tem vista para um mar de problemas. A câmara gasta cerca de cinco milhões euros anuais só em amortizações e juros com o equipamento, deixou de contar com a renda da U. Leiria, e nem consegue vendê-lo, ainda que repartido por vários lotes.

Ainda assim, há quem defenda que o complexo tem viabilidade económica, mormente se o topo norte, que nunca foi acabado, puder cumprir uma vocação comercial. A crise e o cálculo de qualquer investimento nesta altura deixam dúvidas, mas enquanto não se encontra uma solução há que rendibilizar, nem que seja desportivamente, o espaço.

É nesse sentido que a seleção nacional lá irá jogar neste sábado, com a Macedónia, dando início à fase de jogos amigáveis que antecede a disputa do Euro2012. Pouco mais de um ano depois de lá ter jogado, frente ao Chile. Na altura, a situação não estava tão mal, mas para lá caminhava, como o estado geral da economia do país. Faz sentido.

Quando a U. leiria treinava no quartel

A voragem do Euro 2004 chegou a Leiria sob forma de remodelação do velho estádio erigido nos anos 60 e batizado depois com o nome do autarca que o mandou construir. Por causa das obras, a cidade perdeu o pavilhão e um campo pelado, tornando mais complicada a vida dos clubes e da própria União, que deixou de ter um local para as camadas jovens.

A solução foi jogar em campos emprestados e até o quartel de Leiria foi utilizado. Tudo isto até 2007, quando a academia em Santa Eufémia, a cinco quilómetros do centro urbano, ficou finalmente pronta. Os próprios seniores também sofreram com a falta de locais para treinar.

Estranhamente, as modernas e funcionais instalações do complexo desportivo, capaz de albergar os espaços mais polivalentes, não foram concebidas com relvados de apoio.

Penhora, hasta pública e providência cautelar

Os custos insuportáveis para a Câmara de Leiria levaram à decisão, no ano passado, de tentar vender, senão na totalidade, pelo menos uma parte do estádio. Quase em simultâneo, o fisco lançou uma penhora por falta de pagamento do imposto sucessório.

A primeira sessão da hasta pública foi marcada para 22 Setembro e posteriormente adiada para Outubro. O objetivo passava por alienar um lote que junta três de quatro frações do estádio (campo desportivo e as bancadas, topo norte e estacionamento).

O valor foi fixado em 63 milhões de euros, mas a falta de compradores para o «bolo» todo levou a edilidade a autorizar a venda de um segundo lote, avaliado em 24 milhões de euros, que englobava o topo norte e o parque de estacionamento com 450 lugares.

Chegados aqui, haveria dois interessados, um britânico e um português, mas uma providência cautelar interposta por um grupo de sete pessoas, alegadamente eleitores locais do PSD, travou o processo. Impasse. Novamente.

A Sociedade de Reabilitação Urbana Campo Pequeno deu a cara e pela voz de um representante fez saber que, pese o revés, a empresa mantém interesse em adquirir o topo Norte ¿ uma área inacabada do estádio ¿ para aí estabelecer um centro comercial.

No rescaldo da venda frustrada, a câmara fez saber que mantém a intenção de realizar nova hasta pública. «Apesar deste desfecho, a maioria acredita que as manifestações de interesse se mantêm e que se venham a concretizar no futuro, pelo que equaciona marcar uma nova hasta pública em data a anunciar oportunamente», pôde ler-se num comunicado.

Até lá, aproveita quem pode. E a seleção tem sido um dos principais clientes.